A primeira realização cinematográfica da dramaturga e encenadora americana Phyllis Nagy chega esta semana às salas portuguesas. Intitula-se “Call Jane - Tu Não Estás Só” e evoca a acção de um grupo de aconselhamento para mulheres que pretendiam interromper a sua gravidez num contexto muito preciso, ou seja, os EUA do período 1969-73 quando o aborto era ilegal em quase todos os estados americanos.
Vale a pena, por isso, revisitar o filme que colocou o seu nome no mapa internacional do cinema: “Carol” (2015), de Todd Haynes, adaptado do romance “The Price of Salt”, de Patricia Highsmith - Nagy foi a autora da respectiva adaptação, trabalho que lhe valeu uma nomeação para o Óscar de melhor argumento adaptado.
O filme remete-nos também para uma conjuntura em que as regras sociais dominantes condicionavam de forma drástica o comportamento das mulheres. A Carol do título é uma mulher que conhece Therese como empregada de uma loja de Manhattan, embora o seu sonho seja dedicar-se à fotografia — tudo se passa na primeira metade da década de 1950 e a paixão que nasce entre Carol e Therese irá, inevitavelmente, desafiar as leis dos universos em que estão inseridas…
Evitando cair em generalizações fáceis, a realização de Haynes revela-se tanto mais subtil e envolvente quanto se trata de expor o carácter único daquela relação, na sua intimidade como através dos obstáculos que enfrenta. Sem esquecer, claro, que as intérpretes principais são Cate Blanchett e Rooney Mara, duas actrizes em estado de graça que também chegaram às nomeações para os Óscares (respectivamente como actriz principal e secundária), ainda que sem qualquer vitória. Seja como for, estamos perante um estudo invulgar das relações humanas e um sofisticado trabalho de encenação cinematográfica.
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