João Lopes

Comentador SIC Notícias

Cultura

Lembrando as imagens de Bill Butler

Morreu Bill Butler: as imagens de filmes lendários como “Voando sobre um Ninho de Cucos” ou “Tubarão” têm a sua assinatura.

Jack Nicholson em evidência numa imagem de "Voando sobre um Ninho de Cucos" (1975), fotografado por Bill Butler
Jack Nicholson em evidência numa imagem de "Voando sobre um Ninho de Cucos" (1975), fotografado por Bill Butler

Eis um lugar-comum de todos os dias: falamos do cinema como um universo de imagens (raras vezes falamos dos sons…) e quase sempre ignoramos quem tem um papel decisivo na criação dessas mesmas imagens. Ou seja: os directores de fotografia. Lembremos, por isso, o talentoso, nem sempre devidamente reconhecido, Bill Butler.

No dia 5 de abril surgiu a notícia do seu falecimento, em Los Angeles — contava 101 anos. A sua carreira profissional, iniciada na década de 60, é indissociável de um contexto de muitas transformações, pontuado pela emergência da geração dos chamados “movie brats” (à letra: “miúdos do cinema”) que, com o seu misto de admiração pelos clássicos e ousadia experimental, reconfiguraram o panorama artístico e industrial de Hollywood.

O seu trabalho mais famoso é, seguramente, a direcção fotográfica (partilhada com Haskell Wexler) de “Voando sobre um Ninho de Cucos” (1975), de Milos Forman — Butler foi um dos nomeados para os Óscares, mas não ganhou. Em qualquer caso, o filme foi o grande vencedor desse ano, tendo obtido cinco estatuetas douradas.

Antes, já tinha sido responsável pelas imagens de dois títulos de Francis Ford Coppola, “Chove no Meu Coração” (1969) e “O Vigilante” (1974), tendo também assumido as funções de director da segunda equipa no espectacular “Deliverance/Fim de Semana Alucinante” (1972), de John Boorman. Também em 1975, fotografou “Tubarão”, de Steven Spielberg, por certo um dos maiores desafios que enfrentou, devido à complexidade prática e logística de uma rodagem no alto mar [veja-se o trailer referente à mais recente reposição do filme].

Encontramos a assinatura de Butler em filmes tão diversos como o musical “Grease/Brilhantina” (1978), com John Travolta e Olivia Newton-John, “Os Rapazes de Biloxi” (1988), drama de guerra escrito por Neil Simon, ou “Graffiti Bridge” (1990), musical escrito, interpretado e dirigido por Prince. Nos momentos mais significativos da sua filmografia, ele foi, afinal, um dos directores de fotografia que revalorizaram um estilo que nunca dispensou o uso da luz natural, mesmo quando sujeita a múltiplas manipulações — sem dúvida por isso, a American Society of Cinematographers distinguiu-o, em 2003, com um prémio de carreira.