Há filmes que, com grande pena de todos os cinéfilos, deixaram de poder ser vistos nas salas escuras — eis um desabafo que, em qualquer caso, pode suscitar outro tipo de observação. A saber: há filmes que, apesar de tudo, podemos descobrir através do streaming.
Assim acontece com "Império da Luz". Mesmo com assinatura de Sam Mendes, responsável por dois magníficos títulos de James Bond ("Skyfall" e "Spectre", respectivamente de 2012 e 2015), mesmo com uma nomeação para os últimos Óscares (para Roger Deakins, na categoria de melhor fotografia), mesmo protagonizado por Olivia Colman (notável actriz inglesa, já "oscarizada" pela sua composição em "A Favorita")… "Império da Luz" será, para nós, apenas uma descoberta caseira.
Vejamos a questão pela positiva: trata-se de uma belíssima descoberta, encenando as atribulações de uma proprietária de uma sala de cinema (Colman, precisamente) numa cidade costeira da Inglaterra do começo da década de 1980.
O contexto histórico está longe de ser indiferente, já que a sobrevivência daquela sala tem como pano de fundo as convulsões sociais e políticas dos primeiros anos do governo de Margaret Thatcher. Seja como for, a questão central é mesmo de sobrevivência (económica e cultural): a sala de cinema em que decorre o essencial da acção é uma pérola de uma arquitectura típica dos anos 40/50, agora ameaçada pelos valores de um consumismo indiferente às formas clássicas de difusão dos filmes.
Com um notável sentido do espaço e uma minuciosa caracterização dos cenários, a par de um notável elenco (que inclui ainda nomes como Colin Firth e Toby Jones), "Império da Luz" é uma celebração do cinema como espectáculo clássico, indissociável da grandeza física e simbólica das suas "velhas" salas — Sam Mendes partilha connosco o amor dos filmes através de um misto de comoção e nostalgia.
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