João Lopes

Comentador SIC Notícias

Cultura

Sessão de Cinema: “Morrer em Las Vegas”

Realizado por Mike Figgis, este é o filme que consagrou Nicolas Cage como membro da nobreza de Hollywood — valeu-lhe o Óscar de melhor actor referente ao ano de 1995.

Elizabeth Shue e Nicolas Cage em "Morrer em Las Vegas": romantismo e tragédia
Elizabeth Shue e Nicolas Cage em "Morrer em Las Vegas": romantismo e tragédia
United Artists

Através de muitos títulos de pequena produção, mais ou menos ligados ao género de terror, Nicolas Cage (n. 1964) construiu uma imagem de culto que, convenhamos, não faz justiça aos grandes filmes em que participou. Penso, por exemplo, em "Peggy Sue Casou-se" (1986), dirigido pelo seu tio, Francis Ford Coppola, "O Feitiço da Lua" (1987), de Norman Jewinson, que valeu um Óscar de melhor actriz a Cher, ou "Um Coração Selvagem" (1990), de David Lynch, consagrado com a Palma de Ouro de Cannes…

E podemos pensar também no filme com o qual Cage arrebatou o Óscar de melhor actor, referente à produção de 1995: "Morrer em Las Vegas" (título original: "Leaving Las Vegas"), produção americana realizada pelo inglês Mike Figgis — pois bem, é uma alternativa disponível em streaming, de alguma maneira permitindo (re)descobrir um belo exercício de cinema algo esquecido.

Cage surge como Ben Sanderson, um argumentista de Hollywood, violentamente dependente do álcool, que vai para Las Vegas decidido a beber até morrer. Ao encontrar uma prostituta de nome Sera, interpretada por Elizabeth Shue, dir-se-ia que Ben fabrica uma derradeira ilusão romântica… Mas a crueza dos factos parece ser mais forte e, sobretudo, mais implacável…

Figgis encena a tragédia de Ben como uma viagem de estranha musicalidade, aliás pontuada por uma excelente banda sonora de espírito jazzístico (composta pelo próprio realizador). Cage e Shue são admiráveis na representação de uma aliança afectiva cuja fragilidade vai ser posta à prova…

Raras vezes de viu, em cinema, uma tão radical encenação de uma história marcada pelo alcoolismo, sem moralismos fáceis e também sem reduzir cada personagem a "símbolo" do que quer que seja. Sempre seguindo um princípio básico do classicismo de Hollywood: respeitar a complexidade das personagens através da excelência do trabalho dos intérpretes.

Filmin