Quando evocamos Patsy Cline (1932-1963), falamos de uma das figuras mais lendárias da música “country” e também, devido à sua morte prematura num acidente de avião, uma das mais trágicas. “Depois da Meia-Noite”, produção de 1985 disponível em streaming, é uma elaborada biografia, capaz de dar conta da sua trajectória artística, sem deixar de ser um subtil estudo psicológico de uma mulher excepcional, plena de contrastes e contradições.
Claro que o filme não pode deixar de evocar algumas das canções mais célebres da sua carreira, incluindo “Sweet Dreams” (que é também o título original do filme), “He Call Me Baby” e esse sucesso mil vezes recreado por outros intérpretes, homens e mulheres, que é “Crazy” — veja-se, aqui em baixo, a cena de “Depois da Meia-Noite” sobre a gravação de “Crazy”.
Em qualquer caso, estamos longe de uma mera antologia de números musicais ligados por uma história “romântica” mais ou menos esquemática. Nada disso: é óbvio que o realizador Karel Reisz (1926-2002), um checo que se afirmou em Hollywood, reconhece a complexidade, tanto artística como emocional, do universo que retrata, valorizando o trabalho do elenco, ao mesmo tempo que vai sugerindo que, afinal de contas, o rótulo “country” é escasso para caracterizar o trabalho de Patsy Cline — ela foi, de facto, pioneira na contaminação desse género de música pelas componentes da pop.
No papel de Patsy Cline, Jessica Lange tem uma das melhores composições de toda a sua carreira, aliás reconhecida por uma nomeação para o Óscar de melhor actriz — nesse ano, a vencedora foi Geraldine Page, em “Regresso a Bountiful”. Vale a pena recordar que Lange já tinha uma estatueta dourada, neste caso como secundária, graças à sua composição em “Tootsie” (1982); voltaria a ganhar em 1995, como actriz principal, com o filme “Céu Azul”.