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Operação Cartão Vermelho: a escuta “flagrante” de Vieira e a compra “surreal” ao Novo Banco

Um relatório da Autoridade Tributária avança novos factos contra Luís Filipe Vieira nos negócios de compra e venda de 55 jogadores.

Operação Cartão Vermelho: a escuta “flagrante” de Vieira e a compra “surreal” ao Novo Banco

O Ministério Público está a investigar a intervenção de Luís Filipe Vieira, ex-presidente do Benfica, na compra e venda de 55 jogadores. Os negócios terão gerado comissões de 10 milhões de euros aos empresários Bruno Macedo, Ulisses Santos, Isidoro Gimenez e Giuliano Bertolucci. A informação foi avançada num relatório da Autoridade Tributária (AT), divulgado esta quinta-feira pela revista Sábado e pela CNN Portugal.

Luís Filipe Vieira é o principal arguido da Operação Cartão Vermelho, tendo sido detido em julho de 2021. Na altura, recaíam sobre o ex-presidente do Benfica suspeitas sobre negócios que envolviam três jogadores, mas, entretanto, a investigação apurou novos factos contra Vieira.

O Ministério Público identificou uma escuta “flagrante” em que o ex-presidente do Benfica é apanhado a indicar, a um interlocutor não identificado, que o empresário Ulisses Santos tem de ser envolvido no negócio de compra de Weigl ao Borussia Dortmund.

A contratação do jogador alemão foi negociada diretamente com o clube e gerou uma comissão de 2,5 milhões de euros que, supostamente, foram pagas ao empresário através de uma empresa offshore, mesmo sem que este participasse nas negociações. O dinheiro pago ao empresário, seria utilizado para comprar imóveis a empresas controladas por Vieira.

O relatório avança ainda que Giuliano Bertolucci esteve envolvido na compra de Pedrinho ao clube brasilerio Corinthians, por 18 milhões de euros, tendo recebido, juntamente como Bruno Macedo, comissões tanto do Benfica como do Corinthians. Três meses depois de assinado o acordo, Bertolucci comprou um imóvel em Lisboa por 3,95 milhões de euros à sociedade White Walls.

“Os factos sugerem uma correlação entre a transferência do jogador e a transação imobiliária realizado entre a sociedade White Walls e Giuliano Bertolucci, como eventual instrumento para a repartição de contrapartidas com Luís Filipe Vieira”, afirma o prourador Rosário Teixeira no relatório da AT.

As transferências realizadas entre 2012 e 2020 – onde se incluem, entre outros, as de Seferovic, Eitsel, Talisca, Jonas, Weigl, Raúl de Tomás e Samaris – estão a ser investigadas pelo Ministério Público.

Negócio “surreal” com o Novo Banco

O inspetor tributário Paulo Silva considerou como “surreal” o processo de venda de cinco imóveis do Novo Banco a Luís Filipe Vieira e José António dos Santos (conhecido como “Rei dos Frangos”), que foi liderado pelo jurista Álvaro Neves. De acordo com a Sábado, Raquel Morgado, a mulher de Álvaro Neves, recebeu 50 mil euros da sociedade Palpites e Teorias – uma empresa que é detida por Sara Vieira (filha de Luís Filipe Vieira), José António Santos e a mãe do empresário Avelino Carvalho.

Entre as escutas analisadas durante a investigação, há uma chamada onde “Rei dos Frangos” confessa a Avelino Carvalho ter dito “à mulher” do jurista para “apertar” com o marido, caso contrário “nunca mais vem nada e você não tem emprego“. Avança ainda que Raquel lhe terá dito para ficar descansado, que o marido estava a trabalhar nisso e que iria “apertar com ele”.

Além disso, a AT descobriu ainda que Sara Vieira, que declara um rendimento anual de 37 mil euros como bióloga, tem sete contas bancárias, por onde passaram milhões de euros, e é proprietária de 22 imóveis em Lisboa.