A Louis Vuitton quis juntar os arquirrivais do futebol mundial e, aparentemente, conseguiu. Costurou uma fotografia de cada um tirada em tempos diferentes e o resultado é uma imagem que se tornou viral poucos minutos depois de ser publicada.
Se quiséssemos dissecar o resultado desta “fotografia”, através da semiótica, seria extensa a análise, já que ela está cheia de significados e significantes. Mas, para ser breve, quero apenas lamentar que esta fotografia seja transmitida ao público como sendo verdade, e sejam as grandes marcas e os grandes fotógrafos a fazerem parte, mesmo apesar de sabermos que na publicidade vale todo o tipo de manipulação da imagética a fim de criar emoções através da fantasia, etc., lamento na mesma, porque isto não é bem uma campanha para vender um produto. Isto parece ter mais a ver com outros valores da marca.
A Louis Vuitton parece querer mostrar-nos que conseguiu juntar os dois melhores “rivais” do futebol a uma “mesa” de xadrez, onde até as peças comidas são em número semelhante, mas diferentes, deixando espaço a outras interpretações, mas mostrando que os dois jogadores são igualmente bons. E a ideia do valor documental ou histórico que a marca quer passar, através desta fotografia, é clara ao chamar a Annie Leibovitz para fotografar. Qualquer fotógrafo mediano poderia ter feito aquela composição, mas não lhe daria o cunho de verdade que uma fotógrafa consagrada dá. Por isso, a ideia de divulgar uma falsa realidade, nesta imagem, é intencional. A Louis Vuitton, quer fazer parecer que juntou Ronaldo e Messi numa espécie de reconciliação na tranquila e poética imagem, mas apenas costurou duas peças distintas, tal qual como faz com as peças que produz; pelo menos aí há uma certa coerência.
Penso que é claro que, com esta imagem, o interesse da marca não é vender mais malas ou acessórios de luxo. É apenas dizer, nós conseguimos o que ninguém conseguiu. Trata-se de estatuto e consagração. Basta ir a qualquer cidade do mundo para vermos as filas à entrada das lojas da marca. A Louis Vuitton não precisa de publicidade para vender mais, precisa apenas de atenção e esta parece ser o petróleo do século XXI.
Esta é uma imagem que não mostra nada além da beleza plástica conseguida. A Louis Vuitton fez tudo certo, desde a escolha do fotógrafo até a edição nas redes sociais da marca e dos jogadores, praticamente ao mesmo tempo; tudo foi pensado matematicamente. Em poucos minutos havia milhões de partilhas da composição.
Para quem não se importa com o valor da fotografia, ou com outros valores mais importantes do que a aparência, esta imagem é incrível, uma obra de arte, um documento histórico, a fotografia do século, épica, entre outros adjectivos espectaculares que se podem ler em milhares de comentários, porque junta os dois melhores do mundo, mesmo que não estejam juntos. Para os que se dão ao trabalho de se importarem com coisas que não sejam apenas espuma, esta campanha da Louis Vuitton, mostra que a marca é igual às outras marcas que têm os dois jogadores a representá-las, mas nunca se lembraram de os juntar pelo “photoshop”.
Numa leitura mais crua, esta é a imagem mais nítida da separação e da ideia de rivalidade na competição. Nem a foto deles juntos, os conseguiu juntar. Não sei se a vitória é um estado de espírito, já a realidade não tenho dúvidas.
Depois da fotografia com as duas estrelas do futebol ter corrido o Mundo, foi divulgado um vídeo dos bastidores da campanha da Louis Vuitton que desapareceu, mas no qual se percebia que Cristiano Ronaldo e Lionel Messi nunca estiveram juntos.