Conto rápido:
- A dado momento do jogo, um espetador sentiu-se mal nas bancadas e foi assistido, de imediato, pelas equipas médicas das duas equipas, que se prontificaram a fazê-lo por iniciativa própria. Ao regressarem ao relvado, a árbitra internacional lisboeta entendeu exibir-lhes o "cartão branco", reconhecendo a nobreza, altruísmo e fairplay daquele gesto.
As mais de 15.000 pessoas presentes nas bancadas da Luz ovacionaram, de pé, a ação meritória de ambas as equipas, prestando justo tributo ao que tinham testemunhado.
O momento a que me refiro não é histórico no sentido de ser novidade por estas bandas: há muito que as associações de futebol, Federação Portuguesa de Futebol e muitas outras entidades desportivas (de várias modalidades) aderiram a uma iniciativa simbólica, que visa premiar condutas eticamente relevantes no desporto.
A parte que importa aqui reter, para lá do valor moral do que se viu na Luz, foi o facto desse momento ter sido notícia além-fronteiras.
A imprensa internacional em peso (inglesa, espanhola, italiana, brasileira, etc.) divulgaram a notícia com destaque, promovendo internacionalmente uma prática que valoriza o que de mais relevante deve existir no desporto.
Pela primeira vez, o "cartão branco" viajou para fora de Portugal, mostrando ao mundo que também nós, neste cantinho à beira-mar plantados, somos capazes de inventar instrumentos distintos, que aplaudem e incentivam às melhores práticas.
A Catarina, as equipas médicas dos dois clubes e o Plano Nacional de Ética no Desporto, o seu grande mentor, devem sentir-se muito orgulhosos.
Numa sociedade ideal, o apelo constante ao desportivismo e aos melhores dos valores deviam ser desnecessários, por serem algo que se espera existir, por defeito, a toda a hora. Não devia ser excecional, não devia ser aplaudido, devia ser normal. Devia ser regra.
A verdade é que as emoções das pessoa nem sempre permitem aceitar resultados, acatar decisões e respeitar diferenças sem insultar, ameaçar ou agredir. No futebol, onde impera mais abundância e maior intensidade, essa é uma verdade ainda maior. Por isso é fundamental que este tipo de projetos, que sensibilizam e motivam os outros, continuem a proliferar no desporto e na sociedade.
Por mais momentos brancos. Como este.
O ex-árbitro internacional Duarte Gomes é comentador da SIC e tem um espaço de opinião no site da SIC Notícias.