Duarte Gomes

Comentador SIC Notícias

Desporto

Opinião

"A justiça desportiva em Portugal é má": é preciso prevenir e sancionar

Como em quase tudo na vida, a melhor forma de evitar que coisas más aconteçam no desporto é através da sensibilização e da prevenção. E se essas não funcionarem, a alternativa tem que ser a punição, de preferência com mão pesada, para que a mensagem passe não apenas na hora, mas também para o futuro.

"A justiça desportiva em Portugal é má": é preciso prevenir e sancionar
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No fundo, é muito simples: no "antes" é fundamental prevenir, informar e apelar ao bom senso, mas se isso revelar-se insuficiente, o "depois" torna-se transcente para exigir responsabilidades e consequências.

Cada um tem a sua visão destas coisas e esta é a minha.

No futebol português - área demasiado sensível pelo poder que atribui, valores que movimenta e emoções que desperta -, esta convicção é ainda mais vincada.

O esforço para sensibilizar agentes desportivos, clubes e adeptos para as melhores práticas deve ser contínuo e há, de facto, um conjunto de pessoas e entidades que o fazem com consistência e qualidade.

São recorrentes as campanhas, apelos e ações que enaltecem boas condutas e promovem os melhores exemplos. Uma palavra de agradecimento a quem desempenha essa missão de forma notável, em prol daquele que deve ser o único caminho a seguir.

Já no que diz respeito a sanções, punições e castigos, há de facto muito a fazer, porque o que existe é manifestamente insuficiente. E por muito que exista quem o justifique através de tecnicidades regulamentares ou de subterfúgios jurídicos, por muito que se tente vender a ideia de que só se faz o que se pode, ninguém me tira da cabeça a ideia de que a justiça desportiva em Portugal é má. Francamente má.

Porquê? Porque é demasiado burocratizada, porque permite demasiados expedientes a quem está sob escrutínio, porque é excessivamente lenta e porque, nas suas decisões finais, é quase sempre branda.

E quando isso acontece, quando as "sentenças" são conhecidas muitos meses e muitos recursos depois, perdem força e valor. Perdem credibilidade.

Pior ainda quando a decisão não confere, aos olhos do senso comum, sensação de justiça.

Se é verdade que os árbitros não devem ser corporativistas, mantendo espírito aberto em relação à critica a que estão sujeitos, também o futebol deve encaixar este tipo de opiniões e refletir sobre o que deve fazer para mudar uma perceção que não é apenas minha.

Seria até interessante que se fizesse uma sondagem bem abrangente que tentasse saber que avaliação fazem as pessoas da justiça desportiva em Portugal.

Os números iriam surpreender de tão maus.

Mudar ou tentar mudar nunca é fácil, sobretudo numa área tão sensível, que depende de demasiadas variáveis (incluindo legais) para crescer em credibilidade e eficácia. Mas não fazer nada (ou fazer pouco) é pior.

É preciso dar passos firmes no sentido de tornar as decisões disciplinares mais céleres e proporcionais às ações que são alvo de sanção. Uma delas passa por retirar aos clubes o poder de regulamentar nesta matéria. Isso só faz sentido na cabeça de quem não consegue ver fora da bolha ou de quem procura, direta ou indiretamente, benefício próprio. As duas estão erradas. Nenhum serve o futebol ou a justiça.

Haja coragem para credibilizar matéria que, aos olhos de todos, não é percecionada como credível.