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Beatriz Ferreira sonha com os Jogos Olímpicos e lamenta o corte "total do apoio ao triatlo cross"

Das recentes conquistas aos sonhos futuros: o trajeto da triatleta Beatriz Ferreira que, no início de maio, venceu o Campeonato do Mundo de sub-23 de Triatlo Cross. Em entrevista ao site da SIC Notícias, a jovem campeã revela as suas ambições e lamenta que qualquer prova que realize em representação da Seleção Nacional seja feita sem o apoio federativo.

Beatriz Ferreira prestes a cruzar a meta do XTERRA Portugal, onde alcançou o primeiro lugar.
Beatriz Ferreira prestes a cruzar a meta do XTERRA Portugal, onde alcançou o primeiro lugar.
Reprodução/Facebook Beatriz Ferreira

Beatriz Ferreira tem apenas 22 anos, mas o seu nome já figura entre os principais do triatlo mundial. O presente mês de maio tem sido vitorioso para a atleta – já conquistou o campeonato do mundo de sub-23 de Triatlo Cross e o XTERRA Portugal -, mas como e quando começou o percurso desportivo de Beatriz Ferreira? Como tem enfrentado as dificuldades que foram surgindo ao longo da caminhada (ou corrida) que tem feito no triatlo? Quais são os seus sonhos e objetivos? Estas e outras questões respondidas pela própria à SIC Notícias.

Ribatejana de coração, oriunda da pequena localidade de Pombalinho, no concelho da Golegã, a atleta que representa o Benfica revela à SIC Notícias que o desporto desde cedo entrou na sua vida.

Começou a andar de bicicleta ainda bastante jovem com o padrinho, com o pai e com o irmão mais novo. O "bichinho" foi crescendo e aos 14 anos, o Núcleo Sportinguista da Golegã convidou-a a ingressar no clube. A partir daí, descreve, o hobby virou "gosto" e não mais parou.

O trabalho foi alimentando o sonho e, em 2019, alcançou o primeiro título mundial, o Campeonato do Mundo de Triatlo XTERRA, no Havai, o que, segundo a própria, foi determinante para "começar a focar-se mais no triatlo".

"A partir daí comecei a focar-me mais em alcançar mais resultados desses. Na época passada, em 2022, comecei a alinhar em partidas internacionais. Fiz o Campeonato da Europa de XTERRA, fiz o XTERRA da Alemanha e o Campeonato do Mundo de XTERRA, em Itália", confessa.

As conquistas em 2023

O ano de 2023, até ao momento, tem sido repleto de êxitos para a jovem. O trabalho e a dedicação que sempre colocou nos treinos diários revelaram-se proveitosos e, no passado dia 5 de maio, subiu ao lugar mais elevado do pódio, em Ibiza, no Campeonato do Mundo de Triatlo Cross, na categoria sub-23.

Na classificação geral entrou para o top-10, tendo conseguido atingir um honroso 8.º lugar entre as elites.

"Foi uma prova que eu já ia preparada para o meu melhor e sabia que no meu escalão podia realmente fazer um pódio. Não sabia que ia subir ao primeiro lugar, mas dei sempre o meu melhor e fiz para isso e também mantive sempre o meu foco durante a prova para a minha posição a nível das elites. Já corri contra as elites que estavam presentes na prova e o meu objetivo foi melhorar a minha posição em relação a elas e ver realmente se esta época, como foi a primeira prova internacional, estaria com melhor desempenho. Ter subido ao primeiro lugar foi ótimo, foi perfeito. Também fiquei muito feliz com o meu oitavo lugar às elites porque, realmente, estar naquele palco com as melhores do mundo, fazer um oitavo lugar foi muito bom para mim", assume Beatriz Ferreira.

No passado fim de semana, entre os dias 20 e 21 de maio, a atleta voltou a sentir o sabor da vitória, desta feita a correr em casa, na Golegã. A triatleta alcançou a medalha de ouro no escalão Pro/Elite, no XTERRA Portugal, uma prestigiada prova de projeção internacional.

Federação cortou “o total apoio ao cross”

Todos estes feitos foram alcançados, admite, graças ao apoio emocional e financeiro da família, visto que o desporto que pratica "é muito caro e não se consegue apoio facilmente".

As ajudas que reúne vêm da Câmara Municipal da Golegã, da Junta de Freguesia de Pombalinho e de uma marca que a patrocina. Já a Federação de Triatlo de Portugal cortou, em 2023, "o total apoio ao cross", o que significa que qualquer prova que realize em representação da Seleção Nacional não conta com apoio federativo.

A atleta vinca que se não tivesse tido auxílio da família e dos patrocínios que conseguiu "por mérito próprio" não teria atingido o nível atual.

Treinos diários fazem parte da rotina

Se o fator económico pesa para atingir o topo, o desportivo também não pode ser descurado. Por isso, Beatriz Ferreira, conta que treina todos os dias, "a não ser que no plano de treinos haja um dia para descansar".

"Normalmente nado sempre de segunda a sábado e nos outros dias vai variando, conforme o plano de treino, mas são sempre duas horas de treino por dia", afirma.

A disciplina de treino é essencial para o alto rendimento desportivo e Beatriz garante que já definiu os próximos objetivos: entrar, pelo menos, no top 10 no Campeonato da Europa de XTERRA e no Campeonato do Mundo de XTERRA, competições onde participará no escalão de elite. Assume que espera "dar o melhor" de si e melhorar as marcas que obteve no ano anterior.

"Gostava de melhorar, entrar no top 10 e, quem sabe, fazer um lugar mesmo bom e ver o meu desempenho a evoluir porque tenho muitos anos e muita margem para evoluir ainda. Gostava de ver isso a começar a acontecer, como já está", vinca.

Beatriz Ferreira durante o Campeonato Nacional de Triatlo Sprint.
Reprodução/ Facebook Beatriz Ferreira

O “maior sonho”

A longo prazo, Beatriz vai mais longe e atira que, "como qualquer atleta, os Jogos Olímpicos são o maior palco que se ambiciona". Por isso, diz que a longo prazo gostaria de poder participar na maior competição multidesportiva do planeta. No entanto, de momento, o triatlo cross ainda não figura entre as modalidades olímpicas, mas a atleta espera "que venha a fazer parte".

"Espero que eu esteja lá [nos Jogos Olímpicos] para representar o país e para ver as mudanças a acontecer na modalidade. Penso que seria uma das coisas que seria mesmo gratificante", diz esperançosa.

É possível conciliar o desporto com os estudos?

Enquanto tal não acontece, Beatriz Ferreira promete continuar a dar o seu melhor na natação, na corrida e no ciclismo, bem como na faculdade, isto porque para além de atleta de elite, a jovem ribatejana frequenta o segundo ano da licenciatura em Economia.

Assume que conciliar os estudos com a atividade desportiva "não é nada fácil" devido aos "horários preenchidos" e à exigência dos estudos, no entanto, ressalva que tem conseguido “conciliar tudo da melhor forma”.

"A prova disso é ter tido aproveitamento às cadeiras e tenho gerido isso da melhor forma, até ver, e espero continuar a fazê-lo porque são duas coisas que eu pretendo fazer no futuro", conta.

Mostra, por isso, que estudar e competir são duas atividades compatíveis e que, para além de poderem ser levadas a cabo com sucesso, também se podem influenciar mutuamente. Beatriz Ferreira tem a certeza de que sem o triatlo, o seu aproveitamento na faculdade "não seria tão bom", visto que ao ter a agenda sempre preenchida, dá "mais valor ao tempo livre".

"No geral, na vida e no estudo [o desporto] faz-me ter mais concentração no momento em que é para concentrar numa coisa e no momento em que é para concentrar noutra. Tenho o foco total no que estou a fazer", explica a triatleta.

Remata dizendo que, se não fosse o desporto, "teria muito tempo livre" e não iria gerir tão bem as suas responsabilidades.

Beatriz Ferreira em ação no Campeonato do Mundo de Triatlo Cross, em Ibiza.
Reprodução/Facebook Beatriz Ferreira

Palavras para as gerações futuras

Se agora Beatriz partilha o "palco" com as maiores atletas de triatlo do planeta, em tempos já foi uma adolescente repleta de sonhos e ambições. Desse modo, deixa uma mensagem aos jovens atletas. Revela que, apesar das dificuldades que possam surgir, "com determinação e confiança no trabalho, as coisas vão começar a acontecer e os resultados vão começar a aparecer".

Nota que ainda tem muito para evoluir, portanto, confessa que as suas palavras ainda se aplicam a si própria. Garante mesmo que, até o corpo aguentar, vai "continuar a dar o melhor" de si e a procurar “bater muitos recordes”.