Só pelo nome, sobra pouca margem para enganos. Herr...a o que mais faltava. O senhor tem tantos emes no cartão de cidadão que até os enes, apesar do louvável “sprint” final, não tiveram hipótese. Sim, acabaram por bisar no apelido mas o que fica é o resultado final. E aí, os esclarecedores 4-2 denunciam o alemão típico que se idealiza a partir da identificação do respeitável Helmut Timmermann.
Conforme é apresentado na página oficial da Benteler, trata-se de uma “lenda” do Departamento de Aço da empresa que se dedica ao fabrico de componentes para automóveis e que não resiste, ela própria, a utilizar a terminologia futebolística para caracterizar os Beckenbauers e os Rummeningges dos tubos de ensaio. “Para nós, o sonho de qualquer clube de futebol tornou-se realidade. Com Helmut Timmermann temos um treinador que há exatamente 50 anos motiva a sua equipa a alcançar o máximo rendimento”, lê-se na secção comemorativa das bodas de ouro do casamento profissional celebrado entre o fiável trabalhador recrutado a 1 de agosto de 1972 e a fábrica que há duas décadas empregou Roger Schmidt.
Talvez isso até explique a caracterização feita ao experiente e venerado Helmut. As coincidências, como a sorte, implicam esforço e porventura o legado de Schmidt em Paderborn não se resumiu às funções enquanto engenheiro mecânico. Mesmo em clara inferioridade numérica no que diz respeito aos emes no um contra um com a “lenda” da companhia, o outrora especialista em componentes de plástico deixou um glossário criado na relva que os administradores ou os bibliotecários em boa hora souberam voltar a aparar.
Por coincidência ou... talvez não, 24 horas depois do balneário de Timmermann saudar os seus méritos como “treinador e sonho de qualquer clube de futebol”, Roger Schmidt escutava também as primeiras palmas de águia ao peito e a 2 de agosto do ano passado o Midtjylland proporcionava uma grande festa na Luz ao ser fatiado por 4-1. Com Gonçalo Ramos e Enzo Fernández em versão denunciadora daquilo que haveria de acontecer no mercado de transferências (o primeiro festejou um “hat trick” e o segundo assumiu o resto do apetite diante de Ólafsson), os dinamarqueses só na segunda parte colheram frutos e foi preciso uma grande penalidade cobrada por um mediático... defensor do Reino de Pineal para Odysseas Vlachodimos ir ao fundo das redes.
Sisto tinha uma seita mas foi só um susto
Pione Sisto Ifolo Emirmija, um mais modesto colecionador de emes, não desperdiçou a indicação para a marca dos 11 metros dada por Alejandro Hernández Hernández (até “herrita”...) e assumiu-se como a única ameaça real para as águias na eliminatória que antecedeu o “play-off” de qualificação para a Liga dos Campeões. Em Randers, na segunda mão, o financiador da famosa seita que se instalou em Oliveira do Hospital voltou a faturar sem que isso resultasse em prejuízo de maior para um Benfica que na época transata consentiu mais golos a Sisto do que derrotas na prova milionária. Na verdade, a estupenda carreira dos encarnados no palco internacional traduziu quase meia volta do campeonato português sem derrotas, com o único desaire, em 14 compromissos, a ser consentido em casa frente ao Inter de Milão. Nicolò Barella inaugurou o marcador para os vice-campeões da Europa e Romelu Lukaku, a exemplo do que fizera Pione Sisto, transformou com êxito uma grande penalidade na segunda parte, fazendo regressar à Terra um Roger Schmidt que ainda estava a meditar ou a levitar na renovação de contrato divulgada no final de março.
Um ano depois de ter sido noticiada a contratação do antigo responsável do PSV como sucessor de Nélson Veríssimo, o presidente do Benfica apostou tudo no homem do momento e que na altura garantia uma vantagem de 10 pontos sobre o FC Porto na corrida pelo lugar cimeiro do pódio. Apesar dos falhanços na Taça da Liga e na Taça de Portugal (caiu no desempate por penáltis em Braga), o germânico encantava o Terceiro Anel no âmbito interno e contavam-se pelos dedos de uma mão as vezes em que o onze do costume não revelava um futebol avassalador e sem saudades de um médio recém-consagrado campeão do Mundo. De cofres recheados graças à campanha na Champions e sobretudo graças à venda de Enzo ao Chelsea por mais de 120 milhões de euros, Rui Costa tinha o cenário perfeito, reconheça-se, para assegurar a continuidade do treinador que tinha lançado António Silva e João Neves e que não revelara nenhuma espécie de inferioridade nos confrontos ao mais alto nível com Juventus e Paris Saint-Germain.
Ainda por cima, era “véspera” da cimeira com Sérgio Conceição no Estádio da Luz e não faltava quem no universo encarnado confiasse na entrega do título em caso de vitória sobre os dragões na 27ª jornada. Se as águias tivessem repetido na capital o triunfo alcançado na Invicta na primeira volta da Liga, o fosso para os azuis e brancos ilustraria uma diferença de 13 pontos com apenas 21 por disputar no que restava do campeonato 2022-23. Não era preciso muito mais para a administração da SAD, nesse tempo ainda com Domingos Soares de Oliveira, se decidir por uma extensão do vínculo de Schmidt até junho de 2026, salvaguardando, obviamente, uma substancial melhoria do ordenado e uma cláusula de rescisão a rondar os 30 milhões de euros.
DFB, FPF, 2026, 0.0
Para desespero dos adeptos benfiquistas que acreditavam na encomenda prematura das faixas de campeão, o FC Porto, na condição de visitante, devolveria a “proeza” alcançada pelo Benfica no Dragão e acabou por adiar a festa dos lisboetas no Marquês até à derradeira ronda, o que não anulou o estado de graça do técnico nem causou arrependimentos na Direção face à medida anunciada ao Mundo quando ninguém imaginava a chicotada psicológica na seleção da Alemanha e muito menos o ciclo atual de resultados e exibições.
Se em 2022-23 o engenheiro de 56 anos liderou um projeto que além do ceptro português viabilizou o tal percurso de 14 jogos e apenas uma derrota na Liga dos Campeões, esta temporada o nível zero apresentado no contexto internacional parece até caricaturar a notícia de que terá sido equacionado o resgaste de Roger Schmidt por parte da DFB (Federação alemã) quando há seis semanas prescindiu da colaboração de Hans-Dieter Flick.
Sem pontos e sem um único golo marcado após três desafios cumpridos na Liga dos Campeões (dois deles em casa), os encarnados, à conta desta fantasmagórica produção, “conseguem” apresentar na presente época 4 derrotas (3-2 no Bessa logo a abrir o campeonato) em 14 encontros oficiais, números que foram agravados com o empate de sábado na recepção ao Casa Pia. Por muito que apele nas conferências de Imprensa a um “Benfica à Benfica”, Roger Schmidt não tem sido capaz de suscitar essa resposta dentro das quatro linhas e pela primeira vez desde que se mudou para Portugal viu lenços brancos num estádio que já se está a engalanar para o dérbi de sempre frente ao Sporting.
A 12 de novembro, quatro dias depois da deslocação a San Sebastian para defrontar a temível Real Sociedad (não falem de bascos a Schmidt, nem de Larrazabal nem daquele que treina o seu Leverkusen, um tal Xabi Alonso...), o campeão nacional recebe os leões de Rúben Amorim num desafio que pode marcar muito o seu futuro. Quando se iniciar a sempre aguardada “final” da Segunda Circular, claro que Rui Costa já sabe se ainda pode continuar a fazer contas à permanência nas provas uefeiras, mas o que vai influenciar verdadeiramente a duração da “era Roger Schmidt” terá a ver com a distância pontual ante os principais competidores domésticos.
Uma vez que a Liga Betclic só apura diretamente o vencedor para a próxima edição da Liga dos Campeões, tudo o que seja abaixo do primeiro lugar pode implicar uma mudança radical nos planos desenhados há seis meses. Em março, era só esperar até 2026, pelo fim do contrato de Roger Schmidt e quiçá pelo fim do contrato de Roberto Martínez na Federação Portuguesa de Futebol.
Na Luz não faltam apreciadores do estilo nem do formidável domínio que o selecionador revela da língua portuguesa, tão-pouco se desconhecendo o desejo de Martínez em voltar a orientar um grande clube.
Rui, ruiu Roger a rendição por Roberto? Herr...a só o que mais (lhe) faltava.