Desporto

Arbitragem surge de cara lavada, com nova roupagem e de peito feito

Opinião de Duarte Gomes. É gratificante ver que a arbitragem portuguesa (que é do futebol, de quem lá está, de quem lá passou e de quem lá passará) optou recentemente por avançar com uma série de iniciativas, contrariando assim a opção diferente nos últimos anos. Mas como diz o ditado, mais vale tarde do que nunca e o caminho que se percorre é sempre melhor do que aquele que nunca se percorreu.

Agora sim, a arbitragem surge de cara lavada, com nova roupagem e de peito feito

É gratificante ver que a arbitragem portuguesa (que é do futebol, de quem lá está, de quem lá passou e de quem lá passará) optou recentemente por avançar com uma série de iniciativas, contrariando assim a opção diferente nos últimos anos. Mas como diz o ditado, mais vale tarde do que nunca e o caminho que se percorre é sempre melhor do que aquele que nunca se percorreu.

Olhemos com pormenor para as novidades:

1.

Em junho, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) anunciou a criação de um grupo de trabalho para estudar a possibilidade de entregar a arbitragem profissional a uma empresa externa. O grupo foi entretanto extinto, porque o CA retirou as conclusões que precisava, apresentado-as em sede própria.

Ora, esta é uma medida que a maioria das pessoas defenderá, não porque não pudesse ser cumprida dentro da atual estrutura - não esqueçamos que funciona segundo uma lei que a obriga a autonomizar a seção profissional -, mas porque oferece uma perceção exterior de maior equidistância, independência e transparência. Numa área tão sensível e escrutinada como esta, isso é algo fundamental.

O grande desafio? A necessidade de se proceder em tempo útil a profunda alteração legislativa e de alterar os próprios estatutos da FPF, com todas as implicações que isso traria. De resto, ideia meritória e com pernas para andar, se bem pensada, preparada e executada.

2.

No arranque desta época, o CA entendeu efetuar um esclarecimento público sobre um lance de jogo objetivamente mal avaliado. Ao fazê-lo, expôs-se naturalmente às inevitáveis críticas exteriores, mas é justo sublinhar que opção foi corajosa, num contexto sempre adverso. Ainda que não tenha acontecido noutros momentos de outras épocas e em situações idênticas, o que importa é começar.

Agora o que se espera é que no futuro, em circunstâncias técnicas semelhantes, a coerência se mantenha, sob pena de serem bombardeados de fora para dentro.

3.

Entretanto, o mesmo CA demonstrou há pouco tempo disponibilidade para participar mensalmente num programa televisivo (não no canal da FPF), onde divulga e explica comunicações áudio trocadas entre equipas de arbitragem. A iniciativa, didática e bem conseguida, foi ao encontro do que o mundo de futebol exigia, sendo por isso digna de aplauso. Independentemente da forma, timing ou conteúdos escolhidos, o certo é que foi dado passo importante rumo à transparência de processos e isso é indiscutível.

4.

Nos últimos dias, o Conselho de Arbitragem decidiu também juntar-se ao apelo da UEFA, organizando uma campanha nacional para tentar atrair e reter jovens para o setor. A falta de árbitros é um problema que dura há décadas e que foi identificado há muito tempo. É amplamente falado e denunciado por todos os que se preocupam ativamente com o presente e futuro da classe. É revigorante perceber que passou agora a ser, finalmente, uma prioridade estratégica para quem dirige a estrutura.

5.

Foi também notícia a "abertura de portas" recente por parte dos árbitros à imprensa, no sentido de acompanhar o trabalho regular que é feito em campo e em sala.

A ação, que não é pioneira, decorreu em vários locais, inclusivamente num dos relvados da Cidade do Futebol, o que não deixa de ser assinalável. É que o acesso dos árbitros a essas áreas não é frequente. Apesar dos vários relvados disponíveis na "casa do futebol", onde está aliás sediado o atual Conselho de Arbitragem Nacional, o treino do pólo profissional dos árbitros de Lisboa é habitualmente efetuado num relvado tutelado pelo Sindicato dos Jogadores, em Odivelas.

6.

Há ainda o reconhecimento público que a divulgação de áudios "Árbitro/VAR" (aos adeptos que estão no estádio) será uma realidade a curto prazo.

Todos estes passos, esta abertura súbita ao diálogo e à discussão de ideias, é obviamente bem-vinda, sobretudo porque assinala uma nova forma de estar do setor. Parece agora encerrado um longo período de silêncio, de ausência de explicações e de inexistência de comunicação com o exterior, tal como aconteceu nas últimas épocas.

Agora sim, a arbitragem surge de cara lavada, com nova roupagem e de peito feito, estando aparentemente disposta a abraçar as exigências destes tempos. Ainda bem.

Independentemente das motivações que presidam à bondade destas iniciativas, o que importa é sublinhar o valor que acrescentam. E de facto acrescentam.

Há mais por fazer, é certo, mas a coisa promete: se estes últimos meses trouxeram tantas novidades, é de esperar que até ao final de 2024 - momento crucial na agenda desportiva em Portugal -, surjam muitas outras. E bem.