João Rosado

Comentador SIC Notícias

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Jesus é candidato no dragão

Opinião de João Rosado. Campeão no Al-Hilal, Jorge Jesus pode tornar-se em maio um nome obrigatório para Pinto da Costa ou Villas-Boas.
Jesus é candidato no dragão
AP Photo

Ainda não começou e André Villas-Boas, no confronto direto com Pinto da Costa, já está a ganhar por 1-0.

Bastou-lhe reservar para amanhã a apresentação formal da candidatura à presidência do FC Porto, antecipando-se a tudo aquilo que sobrar do propagado jantar de Fânzeres, marcado para quinta-feira.

André Villas-Boas

Pode ser mais fácil dizê-lo do que “fanzê-lo” ou, se calhar, até é mais difícil, mas a verdade é que a comissão de apoio ao enésimo mandato de Jorge Nuno deixou-se (?) atrasar e só vai revelar o seu favorito 24 horas depois de a Alfândega do Porto difundir a tática idealizada pelo adepto que em 2011 ganhou quatro das cinco competições que disputou sentado no banco.

Tal como no ano da glória em Dublin, também nesta temporada o FC Porto não terá hipóteses de conquistar a Taça da Liga. E a exemplo do que sucedeu há 13 anos, é o que menos preocupa o dragão, tradicionalmente avesso a erguer o troféu que mais dia menos dia vai ser pretexto para uma “final four” na Arábia Saudita.

O universo azul e branco só tem olhos para o que vai acontecer nas corridas lançadas a três. No campeonato, Sporting e Benfica partem para a segunda volta em vantagem, e na batalha presidencial, quase todos os indicadores sugerem que não haverá sequer segunda volta, embora ainda esteja por apurar o grau de influência que o repetente Nuno Lobo terá na distribuição dos votos.

Aquele que foi o primeiro a oficializar o desejo de ocupar o lugar de Pinto da Costa (PC) não teve mais do que 4,91% em 2020 e, apesar de ter sido “pioneiro” na apresentação de um programa, parece de novo condenado ao último lugar do pódio.

Jorge Nuno Pinto da Costa
Gualter Fatia

O NOVO MOURINHO E DE NOVO MOURINHO

Se o grau de mediatismo e os lamentáveis acontecimentos que marcaram o anúncio das intenções de André Villas-Boas (AVB) merecem ser considerados os barómetros fiéis do que vai acontecer daqui a três meses, restam poucas dúvidas sobre o quadro que resultará da contagem final.

Das duas, uma ou dos dois, um. Podemos assistir à 16.ª (!) investidura ou podemos ver aquele que o Chelsea considerou o novo José Mourinho assumir as rédeas do poder, proporcionando ao futebol português uma curiosa imagem no que respeita às lideranças. Caso exista uma passagem de testemunho, o mais emblemático embaixador da Invicta terá como responsável máximo um ex-treinador, “acompanhando” o ex-médico que governa o Sporting e o ex-jogador que traça os destinos do Benfica.

Frederico Varandas
Gualter Fatia

Por razões distintas, Frederico Varandas e Rui Costa não usufruíram de tempos memoráveis com Jorge Jesus e, no entanto, nenhum outro nome como o do experiente treinador do Al-Hilal encaixa como uma luva no contexto eleitoral do FC Porto. Seja qual for o vencedor, Nuno Lobo incluído.

Rui Costa
Valerio Pennicino - UEFA

Como Sérgio Conceição não é propriamente o exemplo de um contorcionista, qualquer cenário que contemple a nomeação de um novo presidente inviabiliza desde logo a continuidade do atual técnico, embora... não seja de descartar o fim de ciclo mesmo que Pinto da Costa prossiga até 2028.

Sérgio já deu indicadores mais do que suficientes no sentido de manter um caminho paralelo ao homem que o foi buscar ao FC Nantes e até ao momento a renovação... não andou. Por incrível que possa parecer à luz das declarações proferidas por todas as partes, a saída do “mister” tricampeão nacional pode ser o único dado adquirido do sufrágio que ameaça como nunca o fim de uma era iniciada em 1982.

Reeleito e com Conceição prestes a experimentar novos horizontes, PC precisará sempre de alguém como Jesus para acenar aos sócios, sobretudo se os azuis e brancos falharem a conquista do título e o acesso direto à Liga dos Campeões. Com Abel Ferreira no início de mais um Brasileirão e José Mourinho quiçá vocacionado a cem por cento para consultoria no Médio Oriente, o mais titulado presidente do Mundo demoraria dois segundos a chegar à conclusão de que a velha amizade com JJ e a admiração mútua poderiam viabilizar um acordo mil vezes sinalizado com um forte abraço.

NÃO É O DINHEIRO, NÃO É COMO COMEÇA

Aos 69 anos e com a independência financeira há muito estabelecida, Jorge Jesus também sabe que pode não ser sensato adiar o sonho de treinar os três “grandes”. Acima do dinheiro e até das preocupações com a “falta de segurança em Portugal” está, isso sim, a conquista da Liga saudita, nesta altura liderada com algum conforto pelo Al-Hilal graças aos sete pontos de vantagem sobre o Al-Nassr de Luís Castro e Cristiano Ronaldo.

Como Sérgio Conceição e Bruno Lage podem testemunhar a qualquer momento, sete pontos de avanço dão para tudo, para perder e para ganhar campeonatos. É tão indesmentível como o... favoritismo que se reconhece à equipa do ex-portista Rúben Neves, igualmente com aspirações na Liga dos Campeões Asiáticos.

Em maio, Jesus arrisca-se a terminar a época com dois brilhantes anéis e sem nada de muito mais relevante para ganhar em Riade até 2025. Ao contrário do que aconteceria no Porto se aceitasse um eventual convite, independentemente das siglas do remetente.

PC assinaria por tudo o que foi exposto e AVB pela razão acrescida de precisar de um treinador que não se amedrontasse com a sombra de um superior hierárquico que bateu recordes na cadeira de sonho.

Resta saber qual deles será nomeado em abril para... “fanzê-lo”.

Lá está, isto não é como começa, é como acaba.