Nos últimos tempos, não há nada que justifique festejos na Palestina, esta região no Médio Oriente tão repartida, que desde outubro voltou a ser um autêntico campo de guerra, principalmente nas regiões da Faixa de Gaza e da Cisjordânia. Mas, fora do campo da política ou da guerra, há um pelo menos um motivo para sorrir: a Palestina fez história e está apurada para os oitavos de final da Taça da Ásia.
A equipe nunca havia vencido um jogo na competição, quanto mais passar de fase. Ora, esta terça-feira, conseguiu as duas coisas. A Palestina ganhou, por 3-0, frente ao Hong Kong e apurou-se para os oitavos como uma das quatro melhores terceiras classificadas.
O adversário na próxima fase será a Austrália ou Qatar.
Um olho na bola, outro na guerra
Entram em campo 11 futebolistas, ou melhor, 11 humanos, que não estão alheios ao que se passa em Gaza. O selecionador da Palestina, Makram Dadoub, afirmou que os jogadores acompanham as notícias da guerra “antes e depois dos treinos” e também “no autocarro a caminho do hotel”.
“Tivemos também problemas físicos, técnicos e táticos devido à suspensão do campeonato e à falta de competição, além do aspeto mental”, contou Dadoub, em declarações à agência AFP.
Há jogadores e técnicos que perderam familiares e viram suas casas serem destruídas ao longo do conflito. Nos últimos anos, alguns atletas foram presos e outros acabaram mesmo por perder a vida. É o caso de Rashid Dabour e Nazir al-Nashnash.
Promessa cumprida
Tamer Seyam, avançado dos tailandeses do PT Prachuap, disse no início da prova que a Palestina queria “passar uma mensagem ao mundo” e elevou a fasquia para a Taça da Ásia, colocando como principal objetivo a inédita qualificação.
“Tudo é difícil na Palestina. Queremos passar uma mensagem ao mundo. Uma mensagem que diz que as pessoas da Palestina existem e exigem a liberdade. Queremos a qualificação na fase de grupos. É algo complicado, mas queremos fazer o nosso povo sorrir, mesmo que por breves momentos”.
No dia em que se assinalam 110 dias de guerra, o capitão da equipa frisou que os jogadores “cumpriram a promessa ao povo palestiniano”.
“Conseguimos colocar um sorriso no rosto daqueles que nos seguem, dentro ou fora da Palestina”, afirmou Musab Al-Battat.