Um adepto do Sporting ficou cego de um olho, depois de ter alegadamente sido atingido por uma bala de borracha disparada pela polícia. Tudo aconteceu durante os festejos do título de campeão nacional de futebol, no último sábado.
Trata-se de um dos vários adeptos que denunciaram agressões sem motivo por partes das forças policiais. A PSP alega que agiu por terem sido arremessados engenhos pirotécnicos e já abriu um inquérito para apurar as circunstâncias da intervenção dos agentes envolvidos.
Nas imagens a que a SIC teve acesso, são visíveis agentes do dispositivo da unidade especial de polícia a apontar armas antimotim a quem se encontra por perto. O momento foi gravado por dezenas de adeptos que esperavam a passagem do autocarro do Sporting pela zona do Saldanha. Foi nessa altura que foi atingido Bernardo Topa.
"Perdi a visão, que era o que mais temia"
“Lembro-me de ver o corpo de intervenção a chegar com shotguns na mão e a disparar para todos os lados. De repente, sinto uma bala projetada diretamente contra o meu olho esquerdo e imediatamente percebi tudo o que aconteceu”, relata o adepto.
“Fui a correr desamparado a pedir ajuda, a deitar sangue por todos os lados, um cenário horrível”, conta. “Encontrei dois agentes. Fiquei ao pé deles, duas enfermeiras também entretanto chegaram.”
O adepto foi transportado para o Hospital de São José em Lisboa, onde esteve internado nos últimos dias.
“Confirmaram-me o pior: que ia perder a visão do olho esquerdo, que era o que eu mais temia”, diz Bernado Topa, que não tem dúvidas de que a bala que o atingiu pertencia à PSP.
Adeptos processam Estado, PSP investiga
Cego de um olho, com o futuro como assistente de bordo comprometido, tenciona processar o Estado. E não é o único.
Também João Abelha, que esteve internado no mesmo hospital, fez queixa, depois de ter sido submetido a uma cirurgia por ser atingido por uma bala de borracha.
“Fui atingido na cara. Havia muito fumo, na altura, mas não havia nada a provocar a brigada de intervenção. Havia famílias”, recorda este adepto.
A PSP continua a garantir que a operação em causa foi tranquila, embora assuma que houve necessidade de intervenção pontual com uso de meios coercivos, numa altura em que, argumenta, foram arremessados engenhos pirotécnicos a polícias. Para já, foi aberto um inquérito para apurar todas as circunstâncias.