Economia

Mais de 80 milhões de ações transacionadas nos últimos 42 minutos de vida do BES

Mais de 80 milhões de ações do BES foram transacionadas só nos últimos 42 minutos de negociações, mais do dobro da média diária, antes de a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários ter suspendido a sua comercialização, na sexta-feira. Nesse dia atingiram o mínimo histórico de 10,5 cêntimos por título. Agora, valem zero. A Euronext confirmou ontem que as ações do BES saem do PSI20.

© Rafael Marchante / Reuters

A Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) suspendeu as ações  do Banco Espírito Santo (BES) às 15:42 de sexta-feira, que foi o dia em  que o BCE suspendeu o acesso do banco às operações de política monetária. 

Só entre as 15:00 e a hora da decisão foram transacionadas 83.030.421  ações do banco, de acordo com informações prestadas à Lusa pela Euronext,  um valor que está muito acima da média diária de ações transacionadas do  BES, que é de 37.744.251 ações, segundo a Infobolsa.  
  
Os dias que antecederam a decisão do regulador do mercado foram de  grande volatilidade para as transações do banco fundado pela família Espírito  Santo, tendo sido transacionados mais de 671 milhões de ações só na quinta  e na sexta-feira.  
  
Na quinta-feira, o dia que se seguiu à apresentação dos prejuízos históricos  de mais de 3,6 mil milhões de euros só na primeira metade do ano, foram  compradas e vendidas mais de 419 milhões de ações do BES.  
  
Nesse dia, os títulos do BES só começaram a ser negociados já depois  das 10:00 da manhã e a primeira hora de trocas foi intensa: os investidores  transacionaram mais de 145 milhões de ações do banco.  
  
Já na sexta-feira, entre a abertura da sessão e o momento em que foi  suspensa a negociação dos títulos do BES, foram transacionados mais de 251  milhões de ações do banco, tendo o pico sido registado precisamente mais  perto da suspensão.  
  
A agitação dos títulos do BES nestes dias não se limitou a um volume  de trocas elevado: na quinta-feira, os títulos perderam mais de metade do  valor e, na sexta-feira, antes de a CMVM suspender a negociação das ações,  o banco recuava 40,3%. Nessa altura, cada ação valia 12 cêntimos.  

Euronext confirma saída do PSI20  

 

A gestora da bolsa portuguesa confirmou ontem a saída do PSI20 das ações do  BES, com efeitos a  partir da próxima segunda-feira, ficando o principal índice com apenas 18  títulos. A Euronext Nyse já tinha tomado esta decisão na segunda-feira à noite,  quando disse que seria confirmada até hoje, se até ao fecho das negociações  não houvesse mais informações do regulador sobre a situação do BES.  

O BES será retirado do PSI20, o índice onde estão cotadas as maiores  empresas portuguesas, a um preço de zero euros (0,00Euro), para que é tido  como preço de referência para cálculos de carteira.  

CMVM investiga negociações

A Comissão do Mercado de Valores Mobiliários informou entretanto  que está a investigar a negociação de títulos do BES, sobretudo na passada  sexta-feira, para verificar se houve utilização de informação  privilegiada.  

A história das últimas horas do BES no PSI20 começa a contar-se no dia em que o banco anunciou os  prejuízos semestrais mais elevados de sempre na história da banca em Portugal:  na noite de quarta-feira, a 30 de julho, a instituição revelava resultados  líquidos negativos de quase 3,6 mil milhões de euros em seis meses e desvendava  uma série de problemas e irregularidades financeiras no grupo.  
  
Na altura, ainda não se sabia que, dois dias depois, seria decretado  o último dia do BES no PSI20, mas 15:42 de sexta-feira viriam a ser a hora  derradeira dos títulos do banco.  
  
Isto porque, no primeiro fim de semana de agosto, o Banco de Portugal  tomou o controlo do BES e determinou a sua extinção. O BES é agora o nome  do 'bad bank', o veículo em liquidação que inclui os ativos e passivos tóxicos  do banco. A parte considerada não problemática foi segregada e concentrada  numa instituição diferente e transitória, o Novo Banco, liderado por Vítor  Bento.  
  
A solução do Banco de Portugal, que foi anunciada já na noite de domingo,  inclui a perda de licença bancária do BES, que deixa assim de ser banco,  e a injeção de capital no Novo Banco, através do Fundo de Resolução bancária. 
  
Com Lusa