"Há muitas razões políticas para atrasar as reformas estruturais, mas poucas razões económicas para o fazer. O custo de as atrasar é demasiado elevado", afirmou hoje Mario Draghi, no Fórum Económico de Bruxelas, que decorre na capital belga.
Para o presidente do BCE, dada a interação que existe entre as diferentes políticas económicas, "é do interesse de todos que as diferentes formas de política se apoiem umas às outras, nem que seja porque isso reduziria o tempo para as reformas produzirem os seus efeitos".
Mario Draghi iniciou o seu discurso em Bruxelas afirmando que "a política monetária não existe no vazio" e defendendo a relevância das restantes políticas económicas, que podem "reforçar ou diluir" os efeitos da política do BCE.
"A política monetária pode ser decisiva para apoiar a procura, estabilizar as expectativas de inflação e para prevenir efeitos de segunda linha nos preços e nos salários, e é isso que o BCE tem feito nos últimos dois anos. Mas a orientação de outras políticas também influencia o regresso do produto ao seu potencial. Por isso, se outras políticas não estão alinhadas com a política monetária, arriscamos a que a inflação atinja o seu objetivo [de ficar próxima, mas abaixo de 2% no médio prazo] num ritmo mais lento", defendeu.
Nesse sentido, o líder do BCE destacou um conjunto de políticas que, a nível financeiro e orçamental, influenciam a economia no seu todo.
"A consolidação orçamental em alguns países foi implementada sobretudo através do aumento dos impostos e não no corte da despesa (...), atrasou o regresso do produto ao seu potencial", considerou, admitindo que isso não teria acontecido caso a política orçamental fosse "mais encorajadora".
Mario Draghi defendeu ainda a necessidade de continuar - e avançar - com as "reformas estruturais corretas", o que pode criar as condições para "o BCE regressar às políticas de taxas de juro convencionais como forma de alcançar a estabilidade de preços".
Considerando que na zona euro foram implementadas várias reformas estruturais com resultados nos últimos anos, o presidente do BCE afirmou que "ainda há muitos mais benefícios que podem ser alcançados e muito que ainda pode ser feito".
Mario Draghi exemplificou com Portugal, considerando que "as reformas no mercado de trabalho, introduzidas durante o programa de ajustamento, reduziram a taxa de desemprego cerca de três pontos percentuais no período 2011-2014".
Por fim, o líder do BCE considerou que a incerteza quanto à estabilidade da zona euro também influencia a política monetária, "porque também pode abrandar os seus efeitos", defendendo ser necessário "restaurar a clareza e a confiança no sistema institucional da zona euro".
Assim, concluiu, "todas as áreas políticas têm o seu papel" e "todos os decisores políticos têm uma motivação forte" para avançar com as reformas.
"O tempo é importante. Um regresso muito lento da economia ao seu potencial está longe de ser inócuo. Pelo contrário, tem consequências económicas duradouras no tempo, uma vez que pode levar à erosão desse potencial", disse.
Nesse sentido, Mario Draghi defendeu que elevar o produto para perto do seu potencial "está relacionado, acima de tudo, com as reformas estruturais" no emprego e na produtividade, considerando que em ambas as áreas "há margem" na zona euro para o fazer.
Lusa