"De 39 milhões de ações que tínhamos, ficamos com 10 mil", disse Tiago Violas Ferreira à Lusa, acrescentando que essa participação residual foi mantida para manter o estatuto de acionista caso o grupo decida litigar na Justiça contra a OPA.
Pela venda das ações na Oferta Pública de Aquisição (OPA), a 'holding' Violas Ferreira Financial encaixou cerca de 44 milhões de euros, sujeitos a impostos, tendo em conta a venda de cada título a 1,134 euros.
Segundo o representante do grupo, Tiago Violas, a decisão de venda aconteceu porque se prevê uma desvalorização dos títulos do BPI em bolsa, após a provável tomada de controlo do banco pelo CaixaBank.
Além disso, afirmou, o grupo Violas Ferreira sentiu-se "maltratado" pelo CaixaBank e prevê que tal possa piorar com um maior controlo do grupo espanhol sobre o BPI.
"Não tínhamos alternativa", sublinhou Tiago Violas.
Quanto ao recurso à Justiça, o grupo Violas Ferreira ainda está a equacionar se o fará e de que modo, mas Tiago Violas já adiantou que em causa poderá estar processar o regulador, a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), por permitir que a OPA se tenha desenrolado "sem qualidade".
Em causa está o preço oferecido pelo grupo bancário da Catalunha, que o grupo Violas Ferreira considera baixo e que diz que não paga a recente perda de controlo do Banco de Fomento de Angola (BFA) pelo BPI.
Aliás, a 'holding' Violas Ferreira, tal como outros acionistas mais pequenos, pediu à CMVM a nomeação de um auditor independente para definir um preço "justo" da OPA, mas o regulador entendeu que o valor da contrapartida cumpria os requisitos legais (nomeadamente a cotação média ponderada do título em bolsa).
Tiago Violas chegou mesmo a considerar que existe uma "troca direta do controlo do BPI [Notes:que deverá ficar nas mãos do CaixaBank após a OPA] pelo controlo do BFA [Notes:pela empresária Isabel dos Santos] e que os pequenos acionistas foram quem pagou".
A OPA do CaixaBank sobre o BPI foi anunciada em abril pelo grupo bancário espanhol (que detém cerca de 45% do capital do BPI), no meio de um conflito que o opôs durante o último ano aos angolanos da 'holding' Santoro (da empresária Isabel dos Santos, com 18,58%), tanto por causa da exposição a Angola, como por causa da desblindagem dos estatutos (regra existente no BPI que impedia qualquer acionista de votar com mais de 20%, independentemente da participação que detivesse).
Os espanhóis ofereceram então 1,113 euros por ação, avaliando o banco em 1600 milhões de euros, mas condicionaram a oferta à eliminação dos limites aos direitos de votos dos acionistas, o que só viria a acontecer em setembro e graças a um diploma do Governo que facilita essa mudança nos bancos.
Com a desblindagem de estatutos no BPI, o CaixaBank passou então a exercer efetivamente os 45% de participação detida e a OPA passou de voluntária a obrigatória e a ser sobre a totalidade do capital social (100%), tendo o banco espanhol aumentado o valor oferecido por ação para 1,134 euros.
Mais recentemente, em dezembro, o BPI conseguiu ainda reduzir o excesso de exposição a Angola (como exigido pelo Banco Central Europeu), depois de os acionistas terem aceitado vender 2% do BFA à operadora angolana Unitel, por 28 milhões de euros.
Esta operação foi já concretizada em janeiro e fez com que a Unitel (empresa também controlada por Isabel dos Santos) passasse a ter a maioria do capital do BFA (51,9%), enquanto o BPI ficou com 48,1%.
Lusa