Segundo o relatório da Greenpeace, há 37 empresas norte-americanas, francesas, portuguesas, belgas e holandesas entre os principais clientes (imagem 4/página 11 do relatório) de exportadores brasileiros de madeira de ipê "com provas de exercerem atividade ilegal".
A ONG denuncia a existência de um "sistema sofisticado" gerido pelos madeireiros e por agentes estatais corruptos para cortar mais árvores do que o autorizado. Além disso, conseguem obter documentos oficiais para a exportação da madeira.
No estado do Pará, por exemplo, são engenheiros que falsificam os inventários, aumentando o número de árvores ou classificando como sendo árvores ipê as outras árvores com madeira menos valiosa. E qual é o interesse desta manipulação?
"As agências do Estado dão créditos [aos madeireiros] para terem direito a cortar e exportar aquela madeira não existente", explica a Greeenpeace. "Estes créditos são depois utilizados par alterar as contas das serrações que tratam das árvores abatidas ilegalmente nas florestas situadas nas terras indígenas, nas zonas protegidas ou nos terrenos públicos".
A Greenpeace apela por isso aos compradores norte-americanos e europeus que estejam mais atentos à madeira que importam.
Madeira densa e muito valiosa
A majestosa árvore ipê pode atingir os 30 a 40 metros de altura e fornece uma das madeiras mais densas e resistentes do planeta - a tal ponto que afunda a pique quando colocada na água.
É por isso muito procurada para fabricar chão e móveis de jardim, sobretudo na Europa e EUA.
Como esta árvore está espalhada pela floresta, o corte de uma é sinónimo de destruição de tudo o que está à sua volta.
"Vítimas da sua própria magnificência, as árvores de ipê são muito facilmente detetadas no meio da Amazónia", sublinha o relatório. As suas flores exuberantes, tanto cor-de-rosa, como violetas, amarelas ou brancas, dão um imenso colorido ao verde dominante da floresta.
São também vítimas do seu valor de mercado, que pode atingir 2500 dólares (mais de 2 mil euros) por metro cúbico depois de transformadas em chão, mesas ou cadeiras.
De acordo com as contas da Greenpeace, as empresas norte-americanas importaram 10.171 metros cúbicos entre março de 2016 e setembro de 2017. Durante o mesmo período, 11 países da União Europeia compraram, no total, 9.775 metros cúbicos.
As empresas portuguesas estão em terceiro lugar, a seguir aos EUA e França, com 1862,24 metros cúbicos comprados nesse período.
"O grande valor da ipê (...) faz com que seja lucrativo para os madeireiros ilegais irem mais longe dentro da floresta" para cortarem cada vez mais árvores, denuncia o relatório.
E "os madeireiros sem escrúpulos esburacam a floresta tropical com estradas ilegais, invadem ilicitamente as zonas protegidas dos índios, destroem a floresta e muitas vezes cometem atos de violência contra as comunidades locais", acusa a ONG.