A TAP é a única companhia aérea que vai ter de se sujeitar a uma reestruturação profunda imposta por Bruxelas. Para a Lufthansa ou a Air France foi acionado um mecanismo de exceção para poderem enfrentar a pandemia. Porquê?
Depois de três meses com os aviões parados, a Lufthansa recebeu luz verde de Bruxelas para um resgate financeiro. No final de junho, a Comissão Europeia autorizou o Governo alemão a injetar nove mil milhões de euros em troca de um quinto do capital da empresa.
Para além disso, a transportadora comprometeu-se a encolher. As linhas deste emagrecimento foram decididas na Alemanha e negociadas com os sindicatos.
Este apoio foi elaborado ao abrigo de um mecanismo de exceção criado pela Comissão Europeia devido à pandemia de covid-19. O mesmo aconteceu com a Air France e todas as companhias que têm vindo a precisar de dinheiros públicos.
O caso da TAP tem um pormenor diferente: a companhia aérea portuguesa vai ter de provar à União Europeia que é viável. Isto porque, antes da pandemia, as contas já não eram boas.
Desde 2008, o pior ano das últimas duas décadas, a TAP deu lucro apenas quatro vezes. 2017 foi o último ano em que o saldo esteve positivo, mas logo a seguir voltou a mergulhar nos prejuízos enquanto se endividava a comprar mais aviões, a abrir novas rotas e a contratar mais trabalhadores.
A covid-19 veio apenas agravar um problema que já existia e terá sido este diagnóstico que levou Bruxelas a excluir a companhia portuguesa do mecanismo de exceção.
A TAP será a única companhia de aviação europeia a ser ajudada ao abrigo do artigo 107, que já existia e nada tem a ver com a pandemia. Este artigo permite ajudas públicas temporárias à companhia, mas exige um muito profundo e inegociável plano de reestruturação. Poucas companhias europeias recorreram a este apoio, quase todas foram à falência.
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