Economia

Auditoria? Nem pensar, dizem jovens britânicos. A culpa é da má reputação do setor

Sucessivos escândalos contabilísticos levaram a que as auditoras britânicas se tornassem em sítios menos apetecíveis para trabalhar, segundo o "Financial Times", que cita o presidente da PwC no Reino Unido

Há tanta falta de auditores no Reino Unido que apenas 15% dos contratados nos próximos 3 meses serão nativos do país insular, de acordo com declarações do diretor britânico da auditora e consultora de gestão PwC ao "Financial Times".

Esta terça-feira, o jornal dá conta da falta de popularidade da auditoria junto dos novos profissionais britânicos, muito devido às constantes críticas dos reguladores e deputados a estas entidades após escândalos contabilísticos com impactos de milhões junto dos credores e dos contribuintes.

"Torna-se muito mais difícil [reter pessoas] se houver uma corrente de negatividade externa", disse Kevin Ellis, presidente da PwC do Reino Unido, ao "Financial Times", descrevendo eufemisticamente os ataques às auditoras, que deixaram passar empresas com fortes desequilíbrios contabilísticos que acabaram por falir como a construtora Carillion em 2018 (com o equivalente a mais de 8 mil milhões de euros em dívida). A queda levou à falência fornecedores, obrigou ao resgate do fundo de pensões dos seus reformados, e representou perdas para o Fisco britânico.

Falhanços deste tipo levaram a que as quatro grandes auditoras, conhecidas como "Big Four", a Deloitte, PwC, KPMG e EY, a antiga Ernst & Young, tivessem de pagar 42 milhões de libras (cerca de 49 milhões de euros) em multas nos últimos três anos.

A própria PwC está, no Reino Unido, sob investigação depois das falências das entidades financeiras London Capital and Finance e Wyelands Bank.

A falta de atratividade levou Jon Thompson, presidente executivo do Financial Reporting Council (FRC), o equivalente britânico à portuguesa Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), enquanto supervisor dos auditores, a alertar recentemente que a perda de atratividade da profissão é perigosa pelo facto de as exigências face às empresas - tanto ao nível de compliance financeira como de sustentabilidade - estarem a aumentar. "Precisamos de mais auditores, e não menos", disse, citado pelo "Financial Times".