Economia

Juros dos depósitos sobem em Portugal mas estão três vezes abaixo da média europeia

Aumento dos juros nos depósitos registado em janeiro é o mais elevado em 11 anos. Porém, a média de 0,56% está distante dos mais de 2% pagos em países como França e Itália. Nos créditos os juros têm escalado e as renegociações ganham peso

Juros dos depósitos sobem em Portugal mas estão três vezes abaixo da média europeia
Manuel Breva Colmeiro

Os juros dos depósitos em Portugal subiram em janeiro, naquele que foi o maior aumento em 11 anos, segundo os dados divulgados pelo Banco de Portugal esta sexta-feira, 3 de março.

Porém, esta subida de uma taxa de juro média dos novos depósitos a prazo dos clientes particulares de 0,35%, em dezembro, para 0,56%, para janeiro, ainda deixa Portugal aquém da média europeia.

Embora deixando de ser o país do euro que pior remunera, os juros dos novos depósitos em Portugal são um terço daquela que é a média europeia – 1,64%. Fica acima da Croácia, Chipre e Grécia, e próximo dos 0,59% pagos, em média, em Espanha.

Em França, país que melhor remunera o dinheiro aplicado em depósitos na região, a taxa média é de 2,37%, enquanto e Itália é de 2,12%. Acima da fasquia de 2% encontram-se ainda os bancos eslovacos e belgas.

A taxa de juro é mais elevada nos depósitos a prazo certo para particulares, a 1 e 2 anos, de 1,13% (face a 1% em dezembro), mas a maior parte é aplicada nos depósitos até 1 ano.

Já nos juros dos depósitos das empresas em Portugal, o aumento foi mais tímido, mas já está em valores mais elevados. A remuneração média destes depósitos foi de 1,05%, “acima da remuneração oferecida em dezembro (0,97%)”, segundo o supervisor bancário.

Também aqui está abaixo da média europeia, hoje em dia em 1,97%. Desde agosto que Portugal deixou de ter juros mais altos que na Europa, onde chegou a haver taxas negativas (o que é proibido para a banca nacional).

Os bancos recebem 2,5% pelo dinheiro que aplicam no Banco Central Europeu, mas a banca de nenhum país do euro paga tanto aos seus clientes. Entretanto, haverá mexidas na política monetária neste mês de março, na reunião agendada para dia 16.

A banca nacional tem demorado a refletir nos depósitos a inversão da política monetária, já que não há indexação dessa remuneração com a evolução das Euribor, e não tem interesse em captar uma grande magnitude de novos clientes para estas aplicações porque não enfrenta problemas de liquidez, como já ocorreu há uma década.

Juros nos créditos continuam escalada

Em sentido contrário, e como a Euribor é indexante na grande maioria dos créditos à habitação, os juros já têm vindo a subir, encarecendo em centenas de euros as prestações.

A taxa de juro média dos novos empréstimos à habitação subiu menos do que no mês anterior, passando de 3,24% para 3,32%. A taxa de juro média dos novos empréstimos ao consumo foi de 8,48% (7,97% em dezembro)”, indicam os dados da autoridade bancária comandada por Mário Centeno.

Esta tendência tem levado os portugueses a tentar afastar-se dos créditos à habitação com taxa variável (chegou a estar acima de 85%), mas ainda mais de dois terços (69%) dos contratos evoluem consoante as Euribor. A taxa fixa está em 7% dos contratos, e a taxa mista – que é fixa por um período e depois passa a variável – é que está em 24%, tendo vindo a crescer.

Renegociações disparam

Entretanto, o Banco de Portugal divulgou dados que permitem perceber que as renegociações dos clientes – que não aquelas que são determinadas por situações de incumprimento, mas sim de negociação para novas condições dos contratos – estão a subir. Essa subida tem acontecido em força desde os últimos meses do ano passado, período em que também entrou em vigor a legislação que obriga os bancos a mostrar disponibilidade para a negociação.

Ou seja, no montante de novos empréstimos – em que o supervisor agrega os novos contratos, bem como os créditos saídos de renegociações – estes últimos ganham peso. Em janeiro de 2022, 7% do total eram créditos renegociados, os restantes eram novos créditos; em dezembro de 2022, 22% são renegociados e 78% são novos empréstimos; em janeiro de 2023, 32% são renegociados, 68% são novos. Um aumento expressivo do peso.

Em suma, um em cada três contratos de “novos empréstimos” são, afinal, renegociações.