Economia

Patrick Drahi diz que Operação Picoas foi "um choque" e que se sente "traído e enganado"

No centro das investigações está Armando Pereira, que fundou a Altice com o multimilionário franco-israelita-português Patrick Drahi.

Armando Pereira (à esquerda), cofundador da Altice, com Patrick Drahi, fundador da empresa de telecomunicações
Armando Pereira (à esquerda), cofundador da Altice, com Patrick Drahi, fundador da empresa de telecomunicações
Richard Drew/AP Photo

Patrick Drahi, fundador do grupo Altice, afirmou hoje que "foi um choque e uma grande deceção" a investigação que envolve a Altice Portugal e sublinhou que se "essas alegações forem verdadeiras" vai sentir-se "traído e enganado".

Estas foram as primeiras declarações do maior acionista do grupo Altice, que falava numa 'call' com obrigacionistas via 'online'.

"Isso foi um choque e uma grande deceção para mim", começou por dizer Patrick Drahi.

No centro das investigações está Armando Pereira, que fundou a Altice com o multimilionário franco-israelita-português Patrick Drahi, e que foi conselheiro do CEO e da Comissão Executiva da Altice France.

"Se essas alegações forem verdadeiras, sinto-me traído e enganado por um pequeno grupo de indivíduos, incluindo um de nossos colegas mais antigos", acrescentou.

Na intervenção inicial, Patrick Drahi abordou a 'Operação Picoas', desencadeada em 13 de julho, que levou a várias detenções - entre as quais a do cofundador do grupo Altice Armando Pereira -, contou com cerca de 90 buscas domiciliárias e não domiciliárias, incluindo a sede da Altice Portugal, em Lisboa, e instalações de empresas e escritórios em vários pontos do país, segundo o Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) do Ministério Público (MP). Esta foi uma ação conjunta do MP e da Autoridade Tributária (AT).

"No mês passado, tomámos conhecimento de que as autoridades portuguesas estão a investigar alegações de práticas lesivas por parte de certos indivíduos e entidades relacionadas com o grupo Altice", disse, referindo ter-se sentido chocado com a situação.

"Alguns indivíduos, nomeadamente da parte das equipas de compras, esconderam cuidadosamente as suas ações de mim, dos seus colegas e do grupo", prosseguiu o gestor.

"Acredito que esses indivíduos, se as alegações forem comprovadas, tiraram vantagem de sua posição às custas do grupo e, portanto, também às minhas custas pessoais", acrescentou, asseverando que o grupo está a levar "este assunto muito a sério".

A Altice está "a tomar medidas proativas rápidas para entender a verdade e proteger o grupo de qualquer dano caso estas alegações sejam comprovadas", salientou.

Aliás, "depois de saber da investigação das autoridades portuguesas em 13 de julho, agimos imediatamente", disse Patrick Drahi.

O multimilionário referiu que em Portugal, a Altice está a "cooperar plenamente" com as autoridades portuguesas, foram lançadas investigações internacionais em vários países, incluindo a contratação de escritórios de advocacia para conduzir uma análise independente, bem como a nomeação de consultores externos, o que inclui auditores forenses.

Atualmente, "e tanto quanto é do nosso conhecimento, o âmbito da investigação judicial está limitado a Portugal", apontou.

"Internamente, identificámos que entidades da Altice fora de Portugal têm feito negócios com os fornecedores afetados, identificados pelas autoridades portuguesas. Assim, estamos a realizar uma investigação interna exaustiva para avaliar qualquer risco potencial para o grupo Altice como um todo, o que significa que estão a decorrer investigações internas em várias das nossas principais jurisdições", referiu Patrick Drahi.

Apesar das investigações do grupo estarem a decorrer, "estimamos que no caso que diz respeito uma pequena parte das nossas compras globais, de baixo a médio dígito das nossas despesas totais, nomeadamente concentradas em compras técnicas, sendo o valor potencialmente fraudulento apenas na margem ou comissão sobre tais volumes", apontou.

Desde o dia que arrancou a 'Operação Picoas' que o "nosso objetivo é esclarecer o curso preciso dos acontecimentos, revelar a verdade e proteger os interesses do grupo", garantiu, insistindo que a Altice quer ser transparente com todos os 'stakeholders' e atualizá-los "o máximo possível" sobre a posição do grupo.