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Análise

Banco de Portugal: "Esta iniciativa do dia de hoje não é nada inocente"

Para José Gomes Ferreira esta é uma decisão, anunciada esta quarta-feira pelo Banco de Portugal (BdP), que o diretor-adjunto de Informação reiterou repetidamente ser necessária, aconteceu numa altura “nada inocente”.

José Gomes Ferreira
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No dia em que o Banco de Portugal (BdP) anunciou que os bancos vão passar a ter de fazer uma reserva de capital de 4%, o diretor-adjunto de Informação da SIC, José Gomes Ferreira, e o comentador da SIC Sebastião Bugalho, analisam a importância da decisão.

“Disse repetidamente que o melhor que o governador [do BdP] tinha a fazer era dizer aos grupos bancários para reterem lucros, não os distribuírem, e começarem a fazer reservas, porque isto pode vir a ser um problema”, explicou José Gomes Ferreira.

Para o diretor-adjunto de Informação este era a melhor atitude a tomar, tendo em conta que estamos perante “uma inflação que vai demorar muito tempo a combater e os bancos vão ter dificuldade no cumprimento dos créditos se os juros continuarem a subir”.

“Esta iniciativa do dia de hoje não é nada inocente: é o governador a dizer que nós [BdP] estamos aqui a trabalhar e somos independentes”, afirma.

A instituição BdP está em risco?

Perante a atual crise politica com a demissão do primeiro-ministro, e a polémica envolvendo Mário Centeno que recuou esta segunda-feira nas declarações que tinha feito ao Financial Times, afirmando que não foi convidado pelo Presidente da República para chefiar o Governo, levantam-se dúvidas sobre a confiança que a instituição Banco de Portugal continua a transmitir.

Questionados sobre se a instituição Banco de Portugal está em risco, Sebastião Bugalho afirma “Eu acho que está em risco desde que Mário Centeno é governador do Banco de Portugal".

“O maior partido da oposição faz muito bem em não andar a pedir a demissão de Mário Centeno; eu acho é que o governador faz mal em ficar no cargo.Não é só o Banco de Portugal que sai prejudicado deste fait divers de Mário Centeno, é também o Mário Centeno enquanto figura política", afirma.

O comentador completa dizendo lamenta e o preocupa “que num ambiente de incerteza política profunda, com instabilidade económica que vem em 2024, e com a degradação instituição que esta crise política funcionou, era importante temos pelo menos uma instituição política que continuasse de pé”.

José Gomes Ferreira, acrescenta ainda que “Nesta conjuntura, com Mário Centeno, não defendo a sua demissão. Eu acho que o mais grave é o que aparece no comunicado”.

“O que é que está por detrás do facto de Mário Centeno não ter desmentido que havia aquelas conversas, e assim ter sancionado a hipótese de vir a ser primeiro-ministro de um governo que não iria a eleições? Uma vontade do atual partido, que tem a maioria absoluta, de continuar de qualquer maneira ligado ao poder: ligado aos negócios que deram origem a esta crise financeira”, explica.

Acrescentando ainda “O governador do BdP acha que tinha condições de continuar a governar, com esta crise institucional grave criada pela sequência do que aconteceu. E isso é que eu acho que é o dano que pode afetar a imagem do Banco [de Portugal]. É aqui que está o problema”, conclui.