O Orçamento do Estado (OE) para 2022 é apresentado esta quarta-feira na Assembleia da República. A proposta do Governo é muito semelhante à que foi chumbada em novembro. Para o economista Luís Aguiar-Conraria, o OE “já estava desatualizado” na altura que foi apresentado pela primeira vez.
“O OE já estava desatualizado sem qualquer guerra. A verdade é que a inflação já estava a subir, já havia sinais bastante fortes de que a inflação ia ser bastante mais alta este ano do que o que estava previsto no Orçamento chumbado no fim do ano passado – que era uma inflação de 0,9%. Essa previsão já era ridícula, nenhuma instituição séria previa uma inflação tão baixa”, afirma em entrevista à SIC Notícias.
Aguiar-Conraria reconhece que o conflito na Ucrânia irá trazer “inflação extra”, nomeadamente pelo aumento do preço da energia e da alimentação, sublinhando que esta subida irá afetar maioritariamente as famílias mais pobres. Defende também uma atualização dos escalões do IRS.
“A principal alteração, por uma mera questão de justiça fiscal, que devia ser feita no OE era a alteração dos escalões do IRS e de vários impostos”, destaca. “Se a inflação vai ser bastante mais alta do que o aumento dos salários, isso quer dizer que, num salário que se mantenha constante, o salário real baixa bastante e, portanto, se o salário real baixa, os impostos deviam baixar.”
Quando questionado se a proposta do OE para 2022 contém austeridade encapotada, Luís Aguiar-Conraria diz que austeridade “é clara” e “só não vê quem não quer ver”.
“Há uma escolha fiscal que é ao contrário do discurso anterior sobre a necessidade de aumentar rendimentos e os efeitos benéficos que isso teria. Aqui temos exatamente o oposto: uma política fiscal que acaba por ser restritiva e portanto austeritária.”
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