Abusos na Igreja Católica

Bispos anunciam medidas para responder a abusos sexuais na Igreja

A Conferência Episcopal reúne-se hoje em Fátima para analisar o relatório sobre os abusos sexuais a menores. Espera-se que a Igreja tome medidas imediatas. Centenas de católicos enviaram uma carta à conferência episcopal a pedir medidas concretas, como o afastamento dos culpados.

Bispos anunciam medidas para responder a abusos sexuais na Igreja
Paulo Cunha

Os bispos portugueses anunciam hoje as medidas a tomar em resposta ao relatório sobre abusos sexuais de crianças na Igreja católica, que validou 512 dos 564 testemunhos recebidos em dez meses. O relatório da Comissão Independente inclui uma lista com mais de de 100 nomes de padres abusadores que ainda estão no ativo

Os bispos reúnem-se durante o dia em Fátima, em assembleia plenária da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), e apresentam as suas conclusões às 18:00, em conferência de imprensa, sendo esperado o anúncio de medidas imediatas por parte da hierarquia católica.

A Comissão Independente validou 512 dos 564 testemunhos recebidos, apontando, por extrapolação, para um número mínimo de vítimas da ordem das 4.815.Vinte e cinco casos foram reportados ao Ministério Público, que deram origem à abertura de 15 inquéritos, dos quais nove foram já arquivados, permanecendo seis em investigação. Alertou desde logo que os dados "devem ser entendidos como a 'ponta do iceberg'".

No próprio dia da apresentação do relatório, 13 de fevereiro, o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), José Ornelas deixou uma primeira palavra “para as vítimas”. Reconheceu que os resultados não podem ser ignorados e admitiu estar-se perante uma "situação dramática" que será difícil ultrapassar.

O relatório da Comissão Independente inclui 100 nomes de padres abusadores que ainda estão no ativo

No seu relatório, a Comissão Independente deixou algumas sugestões à Igreja, nomeadamente a constituição de uma nova comissão para dar continuidade ao "estudo e acompanhamento do tema", com membros internos e externos à Igreja; a adoção do "dever moral de denúncia, por parte da Igreja, e colaboração com o Ministério Público" ou o pedido "efetivo de perdão sobre as situações que aconteceram no passado e sua materialização".

O "apoio psicológico continuado às vítimas do passado, atuais e futuras" é encarado, também, como responsabilidade da Igreja, em articulação com o Serviço Nacional de Saúde.

Centenas de católicos pedem que “encobridores” se retirem de funções

Na quinta-feira, uma carta subscrita por centenas de católicos pediu também aos bispos portugueses medidas a curto prazo, entre as quais que os bispos "encobridores", a existirem, se retirem de funções.

A carta, revelada pelo jornal digital 7Margens, pede ainda que "todos os abusadores que estejam atualmente ao serviço da Igreja" sejam suspensos preventivamente "sempre que haja indícios minimamente credíveis sobre abusos" e dispensados de funções quando considerados culpados "à luz da moral cristã, independentemente de eventual processo judicial".

A criação imediata de modos de viabilizar apoio e ajuda psicológica, psiquiátrica e espiritual às vítimas de abusos sexuais que o pretendam, a preparação de um momento solene e coletivo para pedir-lhes perdão e a criação uma nova comissão independente que prossiga o trabalho da anterior são, segundo o 7Margens, algumas das medidas que mais instituições e pessoas católicas propõem aos bispos portugueses.

Relatos de abusos na Igreja

No primeiro relatório do género divulgado em Portugal, admite-se que terá havido “no mínimo” 4.815 vítimas de abusos sexuais na Igreja. (Veja aqui o relatório completo - “Dar Voz ao Silêncio”)

Loading...