Afeganistão

Entrevista SIC Notícias

Afeganistão. "Os talibã conseguiram uma coisa que é absolutamente única"

Carlos Branco faz uma análise à situação que se vive no Afeganistão.

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Joe Biden falou pela primeira vez sobre a invasão de Cabul, capital do Afeganistão, por parte dos talibã. Major-general Carlos Branco, investigador do IPRI-NOVA e antigo porta-voz do Comandante das forças da NATO considera o argumento do Presidente norte-americano “um bocado perverso”.

“É um argumento um bocado perverso, sobretudo se percebermos que houve uma alteração da estratégia dos estados unidos relativamente ao terrorismos”, disse em entrevista à Edição da Noite da SIC Notícias. “Nos cenários de guerra onde existe problemas de terrorismo, os EUA estão a desinvestir para concentrarem e orientarem recursos para aquilo que consideram atualmente a maior ameaça”, acrescenta referindo-se à mudança de prioridades norte-americana.

O investigador do IPRI-NOVA sublinha que os acontecimentos que têm marcado os últimos dias não se compara com que se passou em 1992 ou em 1994 e afirma que “se verifica que há ordem na cidade de Cabul”, exercida pelos talibã que “nesta altura têm um cuidado muito grande com a manutenção da ordem pública”.

Sobre os acontecimentos do aeroporto, onde morreram pelo menos sete pessoas – algumas depois de caírem de aviões em pleno voo –, Carlos Branco considera ser “uma situação muito particular”.

“Não vamos esperar que numa situação em que existe uma alteração de regime, de poder ou da correlação de forças corra tudo perfeitamente bem. Haverá naturalmente sítios onde existem situações – vamos dizer – caóticas, que é exatamente o que se passa no aeroporto. Daí a extrapolar e dizer que é uma situação dramática que se vive no Afeganistão, eu penso que não é o caso”, afirma.

O antigo porta-voz dos Comandante das forças da NATO destaca ainda o feito dos talibã na chegada a Cabul, sem grande oposição.

Eles conseguiram uma coisa que é absolutamente única – isto é uma operação que eles planeiam já há alguns meses – em que negociaram transição de poder e rendição de chefes tribais. Ou seja, geriram ao tecido social, que foi uma coisa que nós podíamos ter feito e não fizemos.”

Sobre o futuro, Carlos Branco diz não ter “uma bola de cristal”, mas considera que os talibã possam vir a fazer algumas cedências no que toca aos direitos humanos – principalmente no que às mulheres diz respeito.

Os talibã pretendem ser reconhecidos internacionalmente. E não é por acaso que a NATO tem uma representação diplomática em Cabul. Os talibã só têm a vantagem em ter um país seguro e em ganhar a confiança dos atores internacionais para serem reconhecidos internacionalmente”, afirma.

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