Afeganistão

Aos 14 anos, Abdul veio a pé do Afeganistão para Portugal com um sonho

Chegou apenas com a roupa que tinha no corpo 18 meses depois de ter fugido do Afeganistão. Agora, já a trabalhar em Portugal, quer estudar Ciência Política e “ajudar os portugueses”. Mas há um sonho maior.

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Um jovem de 14 anos fugiu do Afeganistão a pé e, sozinho e praticamente sem ajuda, percorreu milhares de quilómetros até chegar a Portugal. A viagem durou 18 meses.

A caminhada, longa e repleta de obstáculos, ainda está bem presente na memória de Abdul.

“É uma situação muito difícil. (...) Vi várias pessoas a morrer. Famílias, crianças… e eu também estava numa situação muito difícil e não tinha energia para andar na floresta, nas montanhas”, contou à SIC.

Tinha 14 anos quando deixou tudo o que conhecia para trás, até a família, de quem não sabe nada até hoje.

“Lá todos os dias há problemas. Todos os dias há guerra. Eu não tinha escola, não tinha liberdade. O meu pai trabalhava com os americanos no Afeganistão. (...) Por causa disto, os talibãs estavam sempre à procura do meu pai e da nossa família também.”

Sem documentos, Abdul caminhou 18 meses. Passou por 13 países até chegar a Portugal.

“Quando eu cheguei a Itália, várias pessoas disseram que Portugal era um país muito seguro, um país muito bonito”, revela.

A vida em Portugal

Abdul chegou ao Porto em setembro de 2022, apenas com a roupa que levava no corpo. Foi ajudado por uma mulher que o levou para o antigo SEF e encaminhado para Lisboa, onde acabou acolhido pelo Conselho Português para Refugiados (CPR).

À SIC, a educadora social Mariana Gonçalves explica que a responsabilidade do CPR é assegurar o acesso a direitos como a educação e a saúde.

“O nosso acompanhamento foi neste sentido. E depois numa fase posterior, no apoio à procura de emprego, foi uma fase muito importante aqui para o Abdul.”

Abdul tem hoje 19 anos e vive num dos apartamentos da Santa Casa da Misericórdia, que o ajuda a ser independente. Trabalha num restaurante e estuda para terminar o ensino secundário. O grande objetivo é entrar no Ensino Superior, no curso de Ciência Política.

“Quero ser político e quero ajudar o português e ajudar várias pessoas que têm dificuldades, porque o Governo de Portugal ajudou-me”, sublinha Abdul.

Mas há um sonho maior: saber o que aconteceu aos pais e aos sete irmãos. Promete não desistir do reencontro.