Além Fronteiras

Mariana Cabral e a saída do Sporting: "Não me apetecia ter de lutar todos os dias por algo"

Saiu "desencantada" do Sporting, mas agora é treinadora-adjunta de uma equipa da principal liga de futebol feminino dos EUA. Do outro lado do oceano, Mariana Cabral encontrou diferenças abismais até nas coisas mais simples do dia a dia desportivo, tendo deixado de "fazer muita coisa com pouca coisa". 

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Mariana Cabral, de 37 anos, deixou Portugal há poucos meses rumo aos Estados Unidos da América, onde é treinadora-adjunta do Utah Royals FC, um clube que milita na NWSL, a “melhor liga de futebol feminino do mundo”. Mas estará a portuguesa a viver o “sonho americano”? A resposta a esta questão no Além Fronteiras desta semana.

Quando deixou o Sporting, em outubro de 2024, a técnica recebeu diversas ofertas de vários países, mas optou por aceitar o desafio do Utah Royals FC, que lhe permitiu disputar a que considera ser a melhor liga de futebol feminino do globo. “Estou extremamente feliz, foi uma ótima decisão”, assume. 

A treinadora destaca a competitividade do campeonato onde está inserida, mas também os muitos recursos que tem à sua disposição: 

“Estando em Portugal temos de fazer muita coisa com pouca coisa, com poucos recursos, muitas vezes. A quantidade de recursos que tenho aqui é inimaginável, em Portugal não tem comparação. Temos mais dinheiro, mais material, mais infraestruturas, mais tudo.” 

Outra diferença que aponta é a “voz ativa” das atletas norte-americanas, que diariamente “dão opinião sobre praticamente tudo” e lutam “pelos direitos das jogadoras e por melhores condições de trabalho”. 

“Temos algumas jogadoras que estão na seleção americana e quando jogam pela seleção, só um jogo, são oito mil dólares. Se ganharem o jogo, são 10 mil dólares. Estamos a falar de qualquer jogo”, explica. 

A saída do Sporting: "Não partilhávamos as mesmas ideias”

Mariana Cabral explica ainda a razão que a fez abandonar os ‘leões’ mesmo depois de ter vencido a Supertaça frente ao Benfica. 

“As coisas não correram da forma que eu entendia que poderiam correr e, por isso, achei que seria o melhor para mim, também para o clube e para as jogadoras, que houvesse outro caminho. Não partilhávamos as mesmas ideias”, revela. 

A treinadora-adjunta do emblema de Utah lamenta ainda que, na época em que orientava o Sporting, tivesse de “pedir coisas” que considera normais, nomeadamente “condições de trabalho e de treino”. “Já não me apetecia ter de estar todos os dias a lutar por algo”, acrescenta. 

O treinador, no futebol masculino, não tem de estar todos os dias a pedir para treinar num relvado e não num sintético. Não tem de se queixar porque está a treinar com 15 bolas e todas diferentes umas das outras”, aponta. 

Por estes motivos assume ter saído do Sporting “desencantada” e mostra-se descontente com o facto de o futebol feminino em Portugal estar a crescer a “um ritmo muito lento”. 

Sobre a vida nos Estados Unidos, afirma que o “grande choque” que teve foi em relação às grandes dimensões dos supermercados, bem como à grande oferta de produtos, e ao uso indiscriminado de plástico no quotidiano.