A Terra ultrapassou sete dos oito limites de segurança estabelecidos cientificamente e entrou na “zona de perigo”. Um estudo publicado na revista Nature alerta que o problema global não passa só pela perda de áreas naturais e de biodiversidade num planeta a aquecer, mas também pelo bem estar e sobrevivência dos seres humanos.
Em 2009, um artigo seminal publicado na Nature mostrou que a humanidade ultrapassou três dos nove "limites do sistema terrestre": os limites que o planeta pode suportar até que as atividades humanas o tornem inabitável.
O conceito foi revisto e leva agora em consideração como as alterações climáticas afetam desproporcionalmente as comunidades vulneráveis - introduz a ideia de “justiça”, medidas justas que têm de ser tomadas na prevenção de danos para países, etnias e géneros.
Já ultrapassámos sete dos oito limites “seguros e justos”.
Só a poluição atmosférica ainda está dentro dos limites, apesar dos elevados níveis de poluição causarem cerca de 4,2 milhões de mortes por ano.
Se o nosso planeta fizesse um check-up, “o nosso médico diria que a Terra está realmente muito doente, e está doente em diferentes áreas ou sistemas, e essa doença também está a afetar as pessoas que vivem na Terra”, diz a investigadora de política climática e co-autora do estudo Joyeeta Gupta.
O estudo é da autoria do grupo internacional de cientistas Earth Commission, publicado na revista Nature de 31 de maio. “Mais de 40 cientistas de todo o mundo fornecem a primeira quantificação de limites seguros e justos do sistema terrestre a nível global e local para vários processos e sistemas biofísicos que regulam o estado do sistema terrestre”, referem.
Faz uma análise do clima, da poluição atmosférica, a contaminação de fósforo e azoto da água devido ao uso excessivo de fertilizantes, reservas de águas subterrâneas, água doce à superfície, o ambiente natural não construído e o conjunto ambiente natural e ambiente construído pelo homem.
Apenas a poluição do ar não está - ainda - no ponto de perigo global.
“Os humanos estão a correr riscos colossais com o futuro da civilização e tudo o que vive na Terra”.
“Quais são os limites ambientais que não devemos ultrapassar para salvaguardar um planeta e garantir o bem-estar humano? E como podemos fazer isso de maneira justa? Este é o foco da Earth Commission.”
O estudo identificou os “pontos críticos” em toda a Europa Oriental, Sul da Ásia, Médio Oriente, Sudeste Asiático, partes de África, grande parte do Brasil, México, China e parte do oeste dos EUA – a maioria devido às alterações climáticas.
Em cerca de dois terços da Terra não há critérios de segurança de água doce, é um dos exemplos dados pelos cientistas.
“Estamos numa zona de perigo para a maioria dos limites do sistema terrestre”, diz a coautora do estudo Kristie Ebi, professora de clima e saúde pública da Universidade de Washington, citada pela Associated Press.
"A Terra está realmente muito doente, e está doente em diferentes áreas ou sistemas, e essa doença também está a afetar as pessoas que vivem na Terra”, diz a investigadora de política climática e co-autora do estudo Joyeeta Gupta.
Os cientistas salientam no entanto que este não é um diagnóstico terminal. O planeta pode recuperar se nós humanos mudarmos, nomeadamente, alterarmos as formas do uso de carvão, petróleo e gás natural e a maneira como tratamos a terra e a água.
Justiça climática num mundo a aquecer
No acordo do clima em Paris de 2015, os líderes internacionais concordaram em limitar o aquecimento global a 1,5ºC em relação aos tempos pré-industriais.
Até agora, o mundo aqueceu cerca de 1,1 graus Celsius , logo, ainda não ultrapassou o limite de segurança, referem os cientistas, mas isso não significa que as pessoas não estão a ser prejudicadas
“O que estamos a tentar mostrar através do nosso artigo é que mesmo a +1ºC há uma enorme quantidade de danos a ocorrer”, com dezenas de milhões de pessoas expostas a temperaturas extremamente quentes.
Assim, de facto o limite de segurança do planeta de 1,5ºC não foi ultrapassado, mas o "limite justo", aquele a partir do qual as pessoas são prejudicadas, e são-no de formas diferentes e desproporcionais, já o foi.