Alterações Climáticas

Como é que o aquecimento global está a influenciar as tartarugas no Mediterrâneo?

O aumento da temperatura das águas e o investimento em programas de proteção animal têm contribuído para uma maior reprodução de tartarugas nas praias espanholas da costa mediterrânea. Desde 2012, o número de ninhos aumentou substancialmente.

Como é que o aquecimento global está a influenciar as tartarugas no Mediterrâneo?
OCEANOGRAPHIC FOUNDATION OF VALE/ Reuters

Duas tartarugas comuns depositaram recentemente mais de uma centena de ovos em duas praias espanholas. Foram contabilizados 80 ovos em Dénia, na província de Alicante, no sábado passado. De acordo com a Fundação Oceanográfica, na segunda-feira, outra tartaruga depositou 62 ovos em Gandia, na província de Valência. As duas praias ficam situadas na costa mediterrânica.

A tartaruga comum, também conhecida como tartaruga cabeçuda, costumava nidificar principalmente no Mediterrâneo oriental, em países como Turquia, Chipre e Grécia, mas há alguns anos que as costas da Espanha, França e Itália têm registado uma presença crescente de desovas de tartarugas da espécie ameaçada.

OCEANOGRAPHIC FOUNDATION OF VALE/ Reuters

"Águas mais quentes atraíram as tartarugas", disse a bióloga Ana Liria, responsável da ADS Biodiversidad, uma instituição de caridade com sede na Gran Canária, em entrevista à Reuters em abril.

As alterações climáticas são geralmente prejudiciais à vida selvagem, mas as águas quentes parecem ser mais atrativas para as tartarugas nesta zona do globo, explica Ana Liria. A especialista alerta, contudo, para a longevidade destes animais que podem atingir os 100 anos de vida, o que significa que qualquer mudança de comportamento deve ser observada durante períodos muito mais longos.



Desde 2012, o número de ninhos em França, Itália, Espanha e Tunísia disparou. Chegou a 84 em 2020, em comparação com uma média de três por ano de 1990 a 2012, de acordo com um artigo divulgado pela revista científica Global Ecology and Conservation, no verão passado.

A equipa de resgate da Fundação Oceanográfica e cientistas da Universidade de Valência manusearam os dois ninhos encontrados recentemente, realizaram um exame de sangue e um ultrassom, e instalaram um transmissor via satélite para rastrear a sua rota.

OCEANOGRAPHIC FOUNDATION OF VALE/ Reuters

Também colocaram alguns ovos em incubadora. Assim, quando essas tartarugas crescerem, farão parte de um programa que as ajudará a sobreviver.

Os restantes ovos foram levados para uma praia protegida no Parque Natural da Albufera para evitar o contacto com os visitantes.

O caso distinto da Florida: o impacto negativo da crise climática na reprodução das tartarugas

Já do outro lado do planeta, o aumento da temperatura das águas está a ter um impacto indesejado na reprodução das tartarugas.

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A crise climática e as intensas ondas de calor que têm sido registadas nos últimos anos na Florida, no extremo sudeste dos Estados Unidos, estão na origem do fim da diversidade genética das tartarugas marinhas. Quase todas as que têm nascido nas praias do estado norte-americano nos últimos quatro anos são fêmeas. A desigual proporção entre machos e fêmeas é uma preocupação crescente para os especialistas.

De acordo com os investigadores, para que as crias de tartaruga sejam machos, é preciso que os ovos sejam incubados abaixo dos 27º C. Se a incubação acontecer acima dos 31º C, as crias serão fêmeas. Assim, quanto mais quente a areia, maior a proporção de tartarugas fêmeas, o que tem acontecido na Florida.

Em declarações à agência Reuters, Bette Zirkelbach, responsável de um centro para a recuperação de tartarugas neste estado norte-americano, afirmou que "99% das crias de tartarugas são fêmeas" e mostrou-se muito preocupada com a situação: "O mais assustador é que os últimos quatro verões na Flórida foram os mais quentes desde que há registos".