Hoje vem à Consulta Aberta e diz-me que está com uma dor no peito. Apesar de não ser a causa mais provável, a que mais rapidamente quero descartar é um enfarte agudo do miocárdio, o termo médico para ataque cardíaco.
O que acontece num enfarte?
O coração é como qualquer outro músculo, precisa de oxigénio para funcionar. Num enfarte, uma ou mais artérias do coração ficam obstruídas e o sangue que transporta oxigénio deixa de lá chegar.
É como se a artéria fosse uma autoestrada e o enfarte um acidente que vem parar o trânsito de oxigénio. Para evitar complicações, é importante resolver o acidente o quanto antes.
Como ainda não há uma linha do trânsito do sistema circulatório, vou fazer-lhe 4 perguntas para perceber se deve ou não dirigir-se a uma urgência.
- Primeiro: é um jovem saudável de 20 anos, ou uma pessoa com 67 anos, fumadora e diabética?
A probabilidade de enfarte é maior na presença de fatores de risco como idade avançada, tabagismo, colesterol alto, hipertensão ou stress crónico.
- Segundo: como é a dor?
A dor de um ataque cardíaco costuma ser descrita como uma dor intensa, tipo aperto, no centro do peito, e nem sempre é fácil de localizar. Pode irradiar para as costas, braço esquerdo, maxilar ou pescoço.
Em alguns casos o enfarte pode apresentar-se apenas com náuseas ou falta de ar. Nas mulheres, diabéticos e idosos os sintomas podem ser menos exuberantes e a queixa principal ser fraqueza e cansaço inespecíficos.
Se me disser que lhe dói quando carrega num sítio específico ou que agrava com os movimentos, penso mais rapidamente numa dor muscular.
- Terceiro: há quanto tempo tem dor?
A dor de um enfarte dura geralmente mais de 20 minutos. Durações mais curtas, intermitentes ou que melhoram ao longo do tempo, habitualmente estão associadas a outras causas como problemas gastrointestinais ou ansiedade.
É pouco provável que uma dor sem agravamento, e já com vários dias de evolução, seja provocada por um enfarte.
- Quarto: tem outros sintomas associados?
São esses que vão ajudar a perceber a gravidade da situação. Os chamados “sinais de alarme” incluem suores frios, indisposição, ou vontade de vomitar. Nesse caso não vamos arriscar, e deve dirigir-se a um serviço de urgência.
Outros sintomas como falta de força súbita, dormências, e outros sinais sugestivos de doença neurológica também devem ser valorizados
É com base nisto e numa observação completa que vou tentar perceber o que está a causar a sua dor no peito. Na dúvida, ou perante sinais de alarme, o melhor será sempre ligar para o 112.
Aproveito para o incentivar a reduzir os fatores de risco e investir na sua saúde física e mental. Só assim o seu sangue poderá fazer uma boa viagem.