O aumento de novos casos referentes ao período das festas levou o Governo a anunciar a aplicação de um novo confinamento. Na última semana, os registos diários de covid-19 têm rondado os 9.000 casos, chegando a ultrapassar, por duas vezes, os 10.000. Para Bernardo Gomes, médico de saúde pública, o aumento de restrições é “inevitável”.
“Com este volume de casos, basicamente o que nós estamos à espera é um agravamento da situação hospitalar na próxima semana, já partindo destes números elevados. Há aqui um problema grave muito sério”, disse o médico na Edição da Tarde da SIC Notícias.
Bernardo Gomes afirma ser crítico da aplicação de uma medida transversal a todo o país e defende que se deve manter o mecanismo de diferenciação conforme o nível de infeção em cada área, ou seja o sistema anunciado pelo Governo que divide os concelhos entre quatro níveis de risco. Este mecanismo deverá ser usado, na opinião do médico, na altura de aplicar um novo desconfinamento.
“Algo que vale a pena ficar para o futuro – independentemente dos formatos do confinamento que ainda estão por configurar na próxima semana – é relembrar o erro que cometemos em abril de 2020: termos desconfinado de forma idêntica em todo o país deu asneira porque as regiões não estavam todas iguais e nós tínhamos problemas”, lembra.
E deixa um apelo: “Peço, de forma de veemente, que se mantenha o modelo de estratificação de risco após estas medidas possivelmente nacionais no sentido que, ao desconfinar, se acompanhe uma comunicação acertada e atempada”.
Uma terceira vaga colada à segunda
Os números registados nas últimas semanas são uma “consequência de alguns erros cometidos” durante o período das festas. Uma situação que se associa à pressão na gestão clínica que já existia no Serviço Nacional de Saúde.
“Ao fazer inquéritos epidemiológicos apercebemo-nos que houve ajuntamentos claramente superiores àquilo que foi indicado e portanto a mensagem não passou. A responsabilidade individual não chega. E agora estamos a lidar com esta situação de forma coletiva”, afirma Bernardo Gomes.
O impacto da nova variante no aumento de casos em Portugal é ainda desconhecido. A vaga de frio que afeta o país é também propícia à transmissão de vírus respiratórios. Para além disso, o médico de saúde pública considera que houve algum facilitismo por parte da população.
“Parece-me que a terceira onda – a onda resultante do Natal, do Ano Novo, das circunstâncias de maior agregação em dezembro – possa-se ter juntado [à segunda onda] também com algum facilitismo face à presença da vacina, alguma crença de que isto tivesse acabado. A verdade é que os efeitos psicológicos e as condutas são altamente influenciadas pela forma como se comunica e pela gestão das expectativas”, esclarece.
A forma mais eficaz de travar a pandemia é destruindo as cadeias de transmissão e reduzir a taxa de transmissibilidade do vírus. Bernardo Gomes faz uma analogia com fluxo de um rio dizendo que é importante “oferecer uma barragem” aos profissionais de saúde.
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