Coronavírus

“Névoa mental” pós-covid? Investigadores apontam para uma explicação

Dois anos depois de ter covid-19, um professor universitário ainda se sentia como um “computador muito lento que lutava para funcionar”. Agora, uma investigação traz novos avanços em relação a uma possível causa da “névoa mental” e do cansaço após a infeção.

“Névoa mental” pós-covid? Investigadores apontam para uma explicação
Canva

O aparecimento de alguns sintomas comuns após uma infeção por covid-19, como a névoa mental e o cansaço, podem estar relacionados com coágulos sanguíneos no cérebro e nos pulmões. A conclusão é de um estudo de investigadores do Reino Unido aos sintomas de “covid longa”, publicado na revista científica Nature Medicine

Simon Retford, professor da Universidade de Lancashire, esteve duas semanas em coma, em outubro de 2020. A família chegou a temer o pior.

Quase três anos depois, ainda está a recuperar. Além do cansaço extremo, tem problemas de concentração e perda de memória a “curto prazo” e no raciocínio.

“Assumi o cargo de responsável pelo curso em maio do ano passado e era como um computador muito lento que lutava para funcionar”, refere, citado pela televisão britânica BBC.

Formação de coágulos sanguíneos?

A investigação de professores universitários de Oxford e Leicester, The Post-hospitalisation COVID-19 study (PHOSP-COVID), publicada na revista científica Nature Medicine, sugere que a formação de coágulos sanguíneos no cérebro e nos pulmões esteja na origem da “covid longa”.

O estudo envolveu 1.837 doentes internados por causa da covid-19. Os investigadores observaram que 16% têm dificuldades de concentração e falhas de memória, pelo menos, seis meses após a infeção.

Foram observados nos pacientes valores altos de fibrinogénio e do dímero D.

"Tanto o fibrinogénio como o dímero D estão relacionados com a coagulação do sangue e, por isso, os resultados apoiam a hipótese de que os coágulos sanguíneos são uma causa de problemas cognitivos pós-covid”, explica Max Taquet, da Universidade de Oxford, citado pela BBC.

Um dos autores do estudo, Chris Brightling, da Universidade de Leicester, sugere que as consequências (na saúde física e mental) são um “cocktail” da saúde anterior à infeção, da infeção em si e de como o organismo reage depois da covid.

Apesar de considerarem as conclusões relevantes, os investigadores defendem que são necessários mais estudos antes de se testar possíveis tratamentos.