Intitulado "Diáspora, 'Todos os Sonhos do Mundo'", o filme vai acompanhar quatro famílias de refugiados ao longo de dois anos, mostrando as suas vidas e as da comunidade em que se inserem.
"Não queremos fazer um filme de apoio aos refugiados. Queremos um filme para mostrar a realidade, do ponto de vista dos que recebem e o ponto de vista deles [refugiados]", disse à Lusa o diretor de fotografia e responsável pela ligação da equipa da produtora Tempus Filmes à Europa, Fred Alves.
Sendo provenientes do Brasil, "um país neutro", os cineastas têm a possibilidade "de falar de um ponto de vista mais aberto", defendeu.
Reconhecendo que num filme sobre refugiados "a questão humanitária surge como rótulo", o diretor de fotografia sublinhou que o objetivo não é esse: "É mostrar a verdade dos factos".
"Precisamos entender, do ponto de vista histórico, os impactos que essa diáspora vai causar nos países que estão a receber. Friamente estamos a analisar isso", acrescentou
O projeto, dirigido pelo realizador Cleonildo Cruz, começou simbolicamente no Dia do Refugiado, 20 de junho, durante o qual a equipa brasileira manteve uma breve conversa com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, numa visita ao Centro de Acolhimento do Conselho Português para os Refugiados, em Loures.
Desde então, a rodagem do filme já percorreu 3.200 quilómetros, passando por Lisboa, Porto, Faro, Sevilha, Mérida, Cádis e Marrocos.
"Fomos por estrada porque muitos refugiados estão a ser apoiados por igrejas e centros de refugiados ligados ao movimento cristão, e tivemos de parar nesses centros um por um", contou Fred Alves, que diz que nesta primeira etapa a equipa já fez cerca de 40 entrevistas.
Segundo o cineasta, esta longa-metragem irá sendo construída à medida que a equipa for percorrendo um roteiro, que passa por países como Reino Unido, França, Alemanha, Turquia e termina na fronteira com a Síria ou, se for possível, dentro da Síria, para o documentário contar o interior do conflito.
O diretor referiu que o projeto está orçado em 1,4 milhões de reais (386 mil euros), considerando que se trata de "um filme relativamente barato".
Enquanto decorre o projeto, Fred Alves e a sua equipa estarão sediados em Lisboa, para poder acorrer aos acontecimentos, à medida que eles ocorram.
"Não sabemos a que horas as coisas vão acontecer. Precisamos estar na hora certa no local certo, para captar as imagens. Estamos a cobrir a história à medida que ela acontece", explicou.
Entretanto, os interessados podem ir acompanhando o processo através do Facebook, onde a equipa vai disponibilizando pequenos vídeos.
"É o primeiro filme que está a ser acompanhado passo a passo online", afirmou.
Quase 250 mil migrantes e refugiados atravessaram este ano o Mediterrâneo em direção à Europa e mais de três mil morreram no trajeto, segundo números da Organização Internacional para as Migrações.
No ano passado, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, mais de um milhão de migrantes chegaram à Europa por mar, temendo a organização que mais de 4.000 tenham morrido.
Lusa