Crise Migratória na Europa

Seleção de migrantes e plataformas de desembarque são a essência do acordo na UE

Plataformas de desembarque, centros de seleção de migrantes e reforço do controlo das fronteiras externas são os pontos principais do acordo sobre migrações hoje alcançado no Conselho Europeu, em Bruxelas.

Migrantes vindos do Norte de África vêem pela primeira vez a Europa a bordo de um barco de salvamento espanhol.
Migrantes vindos do Norte de África vêem pela primeira vez a Europa a bordo de um barco de salvamento espanhol.
Yannis Behrakis / Reuters

Centros de seleção de migrantes

Os centros têm como finalidade selecionar os refugiados, com direito a permanecer na União Europeia, os migrantes económicos e os cidadãos estrangeiros que podem ser repatriados para os países de origem.

Desta forma, os migrantes quando chegam a território comunitário serão enviados para as instalações de seleção onde devem permanecer até que lhes seja atribuído um estatuto de proteção ou não.

A adesão ao acordo não é obrigatória sendo que cada Estado participa no novo plano de forma voluntária.

"No território da União Europeia aqueles que são resgatados (no mar) de acordo com o Direito Internacional, devem ser acolhidos, com base num esforço conjunto, mediante a passagem por centros controlados e instalados nos Estados membros, de forma voluntária, onde um processamento rápido e seguro permitiria, com total apoio da UE, distinguir entre pessoas em situação irregular e refugiados", refere o documento final do encontro que decorreu em Bruxelas.

Migrantes intercetados no Estreito de Gibraltar levados para um centro desportivo no porto de Barbate, sul de Espanha.
Jon Nazca / Reuters

Plataformas de desembarque

A criação de plataformas de desembarque é uma das medidas previstas nas conclusões do Conselho Europeu para "desmantelar definitivamente o modelo de negócio dos passadores, evitando assim a trágica perda de vidas humanas".

Assim, os líderes da UE querem ver "rapidamente" explorado o conceito de plataformas de desembarque regionais, em estreita cooperação com os países terceiros pertinentes, bem como com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) e a Organização Internacional para as Migrações (OIM).

"Estas plataformas deverão funcionar mediante a diferenciação das situações individuais, no pleno respeito pelo direito internacional e sem criar um fator de atração", diz o texto das conclusões.

Os 28 não mencionam diretamente os países envolvidos pois os Estados devem dar primeiro o consentimento sobre a instalação das infraestruturas nos respetivos territórios.

Prevenção à imigração ilegal

Perante o aumento das chegadas de pessoas através do Mediterrâneo Ocidental, os líderes europeus assinalam que a União Europeia "vai apoiar financeiramente e de outras formas todos os esforços dos Estados membros, especialmente Espanha e países de origem e de trânsito - em particular Marrocos - como forma de prevenção à imigração ilegal".

Devido aos recentes acontecimentos relacionados com o navio da organização não-governamental alemã Lifeline, os líderes europeus sublinham que todos os navios que operam no Mediterrâneo "devem respeitar as leis aplicáveis e não obstruir as operações da guarda costeira da Líbia".

Entre outras medidas, foi pedido um esforço adicional para implementar o acordo migratório com a Turquia e foi estabelecido um compromisso para a transferência de 500 milhões de euros para o fundo fiduciário da União Europeia para África instando os vários Estados do bloco europeu a aumentar o valor das doações.

Controlo de fronteiras e asilo europeu

Sobre os "movimentos secundários" - que se realizam para países como a Alemanha desde Estados membros onde chegam pessoas que pedem asilo -, o documento refere que a situação "põe em risco a integridade do Sistema Comum Europeu de Asilo e o Acordo de Schengen" e exige a todos os países a tomar medidas legislativas e administrativas para travar o trânsito de pessoas.

Sobre a reforma do sistema de asilo europeu as conclusões destacam "progressos" atingidos nos últimos meses.

A reunião começou às 15:00 (13:00 em Lisboa) de quinta-feira em Bruxelas e prolongou-se durante mais de 13 horas, nove das quais foram dedicadas ao debate migratório e sob a ameaça de um possível veto de Itália e as reticências do Grupo de Visegrado (Polónia, Hungria, República Checa e Eslováquia).

Migrantes intercetados no Estreito de Gibraltar, 28 de junho de 2018.
Jon Nazca / Reuters