Pela primeira vez, os cientistas conseguiram recuperar ácido ribonucleico (RNA) de uma espécie extinta: o tigre-da-Tasmânia. A investigação conduzida pela equipa da Universidade de Estocolmo abre portas para a possibilidade de ressuscitar outras espécies já extintas
"Nunca o RNA de uma espécie extinta foi extraído e sequenciado. A capacidade de recuperar RNA de espécies extintas é um primeiro passo em direção à eventual possibilidade de ressuscitar espécies extintas", disse à AFP Love Dalén, professor de genética evolutiva na Universidade de Estocolmo e coautor do projeto.
Numa iniciativa científica inédita, Love Dalén e a sua equipa sequenciaram com sucesso o RNA de um espécime de tigre-da-Tasmânia com 130 anos, que estava armazenado no Museu Nacional de História Natural de Estocolmo desde 1891, e foram capazes de reconstituir o RNA dos músculos e da pele do animal mumificado, revelaram num estudo publicado na Genome Research.
As sequências recuperadas eram de uma qualidade tão alta que permitiram a identificação de RNAs que codificam proteínas específicas dos músculos e da pele deste animal, afirmaram os investigadores em comunicado à imprensa.
"Se quisermos ressuscitar um animal extinto, precisamos de saber onde estão localizados os genes, o que fazem e em quais tecidos são regulados", explicou Dalén.
Estudo dos vírus de RNA
As descobertas dos investigadores terão implicações significativas no estudo dos vírus de RNA.
“Muitas pandemias, incluindo o recente coronavírus e a antiga gripe espanhola, foram causadas por vírus RNA. Poderíamos procurar vestígios desses vírus nos animais selvagens preservados nos museus. Isso poderia ajudar-nos a compreender a natureza e a origem dessas pandemia", disse Dalén.
A extinção do tigre-da-Tasmânia
O tigre-da-Tasmânia Thylacinus cynocephalus, também conhecido como tilacino ou lobo-da-Tasmânia, era um marsupial carnívoro e um notável predador que habitava todo o continente australiano e a ilha da Tasmânia.
Com a colonização europeia da Austrália, o animal foi declarado uma praga agrícola e, em 1888, era oferecida uma recompensa para cada animal morto.
O último tigre-da-Tasmânia morreu em cativeiro em 1936 no Zoológico Beaumaris em Hobart, Tasmânia.
Estudo dos vírus de RNA
As descobertas dos pesquisadores terão implicações para o estudo dos vírus de RNA.
“Muitas pandemias foram causadas por vírus RNA, como o coronavírus recentemente ou a gripe espanhola anteriormente. Poderíamos procurar estes vírus nos restos de animais selvagens preservados em espécimes secos no museu. Isto poderia ajudar-nos a compreender a natureza e a origem das pandemias", disse Dalén.
Ressuscitar o tigre-da-Tasmânia e outros animais extintos
Para a responsável pela coleção de mamíferos do Museu de História Natural de Estocolmo, Daniela Kalthoff, este feito abre caminho para a “ideia emocionante” da ressurreição do tigre-da-tasmânia.
Os investigadores também acreditam haver a possibilidade de alargar a recuperação do RNA a outras coleções de outros museus do mundo.
“Existem milhões e milhões de peles e tecidos secos de insetos, mamíferos e aves em coleções de museus de todo o mundo e poderíamos recuperar o RNA de todos esses espécimes”, afirmou Dalén à AFP.