Mariano Rajoy - que falava no segundo dia da sessão de investidura do candidato a presidente do Governo espanhol Pedro Sánchez - recordou no Congresso dos Deputados que o seu partido, o PP, ganhou as eleições de 20 de dezembro, mas que o líder do PSOE decidiu "bloquear" qualquer possibilidade de entendimento entre os dois partidos.
"Recusou a conversa e não com bons modos, recusou um acordo que era razoável, mas que cortava as suas aspirações políticas. (...) E então descobriu Portugal e nele a fórmula milagrosa: 'se outros perdedores conseguiram, porque não eu?'", questionou Rajoy, num discurso carregado de ironias e de referências ao resultado das eleições portuguesas.
Em Portugal, a coligação PSD/CDS ganhou as eleições, mas sem maioria absoluta, o que abriu caminho a acordos parlamentares pós-eleitorais entre o PS de António Costa, o Bloco de Esquerda e o PCP.
"A 7 de janeiro, senhor Sánchez, viajou a Lisboa para ver como se torce um resultado das eleições, impedindo a direita de governar com uma grande coligação de forças progressistas. E pensou numa nova era triunfal que viria pela sua mão", salientou Rajoy.
O presidente do PP recordou que "assim foram as coisas", até que as exigências do Podemos e das forças da esquerda para formar Governo levaram Pedro Sánchez "a decidir abandonar o sonho português e mudar de rumo".
"Para assegurar a sua sobrevivência política, senhor Sánchez", argumentou Rajoy.
O líder "popular" reafirmou que hoje votará contra na votação de investidura de Pedro Sánchez para presidente do Governo espanhol. Na votação de hoje, a primeira da investidura, o líder socialista precisa de maioria absoluta (pelo menos 176 deputados), apoio que não tem neste momento.
Rajoy justificou o seu "Não" na votação de hoje à noite com "uma razão óbvia".
"Não é a unica, nem a mais importante, mas é porque se trata de uma candidatura fictícia e irreal", disse, entre aplausos da sua bancada.
O líder "popular" disse que Sánchez se apresentou na sessão de terça-feira com um discurso "para fazer crer que se Espanha não tem hoje um presidente a culpa é de todos os outros, os maus".
"A verdade é que o senhor, em vez de tentar conseguir uma maioria evidente, preferiu garantir os seus planos particulares. Veio aqui apresentar uma candidatura para formar Governo quando não moveu um dedo para tentar formá-lo", afirmou Rajoy, numa referência à recusa de Sánchez e do PSOE a negociar com o PP.
O PP, que ganhou as eleições espanholas com 123 deputados (mas sem maioria absoluta), procurou fazer uma "grande coligação" com PSOE e Ciudadanos. O PSOE elegeu 90 deputados, enquanto o Ciudadanos registou 40 assentos e o Podemos 69 (juntamente com as suas formações regionais).
"O máximo que conseguiu foi oferecer ao seu partido o pior resultado da sua história. Mas os espanhóis, se calhar mal informados, decidiram decidiram dar a vitória ao PP. E vem agora aqui a querer rectificar os 'erros' dos espanhóis. Segundo o que diz, ganhou um tal de 'senhor Cambio', consigo à cabeça", disse, irónico, Rajoy.
O líder "popular" acusou assim Pedro Sánchez de "bloquear qualquer possibilidade de formar Governo".
"Disse 'não' quando o chamei a 23 de dezembro [passado] e repetiu-o: 'Não é não' e 'que parte da palavra não o senhor Rajoy não entende?'. Mas isso foi antes dos seus apelos de ontem ao diálogo, à unidade e à 'mão estendida'", sublinhou.
Por isso, concluiu Rajoy, Pedro Sánchez apresentou-se na votação de investidura "sem Governo e sem apoio".
"Esta sessão é um embuste e uma fraude", porque o candidato socialista "estava a pensar em algo que lhe importa muito mais, a sua própria sobrevivência", disse o ainda presidente do executivo em funções.
Lusa