A novela, como designou o próprio primeiro-ministro, ainda parece longe do fim mas, na opinião de Paulo Baldaia, o que o chefe do Governo disse, na noite desta segunda-feira, foi o “pré-anúncio de uma demissão” porque “se o primeiro-ministro pretendesse salvar o seu ministro teria sido bem mais assertivo na sua defesa”.
Apesar de António Costa ter defendido não só o ministro, como as autoridades, também reconheceu “a importância do caso para a credibilidade do Governo, assumindo que tinha gravidade suficiente para uma conversa cara a cara com Galamba”. Conversa essa que está a decorrer neste momento em São Bento.
Mas "já não sabemos o que esperar”, admite Paulo Baldaia, alertando porém para o tom do "Presidente da República com o seu silêncio, com as poucas palavras [que proferiu] publicamente sobre a matéria”.
"O Presidente a República já demitiu ministros em direto [e] poderia ter feito o mesmo aqui, se aquilo que considerasse essencial fosse apenas demitir João Galamba, [mas Marcelo] mostrou que pretendia mais. (…) Há um problema de coordenação, de organização, de quem espera uma remodelação maior, uma nova vida" para este Governo.
A gota de água que fez transbordar o copo
Esta sucessão de casos já não é apenas mais uma episódio da novela. “O primeiro-ministro também sabe que um copo onde cai uma gota de água de cada vez chega a uma altura que fica cheio e há uma gota que faz transbordar o copo”, uma analogia a que Paulo Baldaia recorreu para dizer que este caso de Galamba é “rocambolesco” e foi “a gota de água que fez transbordar o copo”.
“Não é [por isso] possível que João Galamba continue no Governo. [E] se continuar as relações entre o primeiro-ministro e o Presidente da República ficarão irremediavelmente afetadas”, sobretudo pela “linha vermelha” estabelecida por Marcelo. Veremos se Costa a ultrapassa ou não, mas se mantiver Galamba, ultrapassa essa linha".
A verdade é que com estes casos sucessivos, “o Governo roubou o estatuto de mais trapalhão da III República ao Governo de Santana”, e com a aproximação das eleições europeias, “é evidente que a dissolução da Assembleia da República é uma coisa que pode acontecer a qualquer atura”, apesar de, sublinha o comentador SIC, António Costa ter condições que Santana Lopes não tinha.
Desde logo, “a credibilidade política de ter sido eleito com uma maioria absoluta que Santana não tinha porque herdou o poder”, além disso, em 2005 “havia uma alternativa formada, agora à Direita é preciso tempo para que o PSD se afirme como única alternativa”.