Belém manteve na agenda a reunião semanal com o primeiro-ministro que, recorde-se, já estava prevista para esta quinta-feira. Por coincidência, e opção da Presidência, a agenda não foi alterada apesar do anúncio da declaração de Marcelo ao país.
A reunião estava marcada para as 18:30, Costa chegou apenas quatro minutos depois proveniente de Braga. Para garantir que não havia atrasos, o chefe do Governo viajou de avião até Lisboa.
A comunicação está marcada pelas 20:00 e acontece dois dias depois de ter manifestado a sua discordância em relação à decisão do primeiro-ministro de manter João Galamba como ministro das Infraestruturas, e duas horas depois de receber António Costa em Belém.
Na terça-feira à noite, após António Costa anunciar a decisão de manter João Galamba como ministro, Marcelo Rebelo de Sousa fez divulgar uma nota na qual afirmou que "discorda da posição deste quanto à leitura política dos factos e quanto à perceção deles resultante por parte dos portugueses, no que respeita ao prestígio das instituições que os regem".
O chefe de Estado salientou que "não pode exonerar um membro do Governo sem ser por proposta do primeiro-ministro".
Nessa mesma nota, publicada no sítio oficial da Presidência da República na Internet pelas 21:25, Marcelo Rebelo de Sousa mencionou que ao apresentar o seu pedido de demissão João Galamba invocou "razões de peso relacionadas com a perceção dos cidadãos quanto às instituições políticas" e que o primeiro-ministro "entendeu não o fazer, por uma questão de consciência, apesar da situação que considerou deplorável".
As voltas do caso Galamba
Recorde-se que, nos últimos dias, o ministro das Infraestruturas esteve envolvido numa polémica com o seu ex-adjunto Frederico Pinheiro, que demitiu no passado dia 26 de abri. Em causa estão “notas” tomadas por Frederico Pinheiro sobre uma reunião por videoconferência com a presidente executiva da TAP, Christine Ourmières-Widener, e elementos do grupo parlamentar do PS, na véspera da sua audição na Comissão de Economia da Assembleia da República.
O caso envolveu ainda denúncias contra Frederico Pinheiro por violência física no Ministério das Infraestruturas e furto de um computador portátil, depois de ter sido demitido, e a polémica aumentou quando foi noticiada a intervenção do Serviço de Informações e Segurança (SIS) na recuperação do equipamento.
Perante esta “novela” pública, Marcelo Rebelo de Sousa escusou-se a comentar quer os relatos de violência dentro do Ministério da Infraestruturas, quer o recurso ao SIS e as versões contraditórias de João Galamba e do ex-adjunto sobre a Comissão Parlamentar de Inquérito sobre a TAP.
Ainda assim, classificou desde logo como “sensível” o caso e, noticiou o semanário Expresso na manhã antes do encontro em São Bento entre Costa e Galamba, que Marcelo esperava que o primeiro-ministro demitisse João Galamba. O que, como sabemos, não aconteceu