Não é incomum que, com a queda de regimes autoritários, venham à tona atrocidades cometidas contra opositores. Porém, a dimensão das valas comuns encontradas na Síria revela uma repressão avassaladora.
Imagens de satélite da empresa Maxar mostram o crescimento de uma sepultura coletiva em Qutayfah, a cerca de 45 quilómetros de Damasco, entre 2012 e 2022. As estimativas mais conservadoras indicam que lá podem estar enterrados mais de 100 mil corpos. Esta é apenas uma das cinco valas identificadas por uma organização síria de defesa dos Direitos Humanos.
Durante o regime de Assad, o acesso a estes locais era praticamente impossível. Agora, o risco é que estejam acessíveis a pessoas sem a preparação necessária para preservar provas ou respeitar os mortos.
Numa outra vala de menor dimensão, as equipas forenses trabalham para identificar restos mortais, devolvê-los às famílias e registar indícios de crimes para a memória histórica.
Inúmeras famílias sírias continuam a procurar entes queridos desaparecidos em prisões do antigo regime, morgues e valas comuns. Estima-se que 150 mil pessoas estejam desaparecidas na Síria, a maioria raptadas ou detidas pelo regime de Assad.
Um relatório da ONU de 2021 já tinha revelado que outros intervenientes no conflito, como o Daesh, milícias curdas, a antiga Frente al-Nusra (agora Hay'at Tahrir al-Sham), e até forças internacionais também cometeram ataques contra civis.
A queda do regime de Assad terá repercussões nos países vizinhos e além. A ONU estima que cerca de um milhão de refugiados poderão regressar à Síria entre janeiro e junho de 2025.