Guerra no Médio Oriente

"Genocídio em Gaza realça a incapacidade da Europa para agir", diz comissária espanhola

Os 27 Estados-membros da União Europeia têm-se mostrado particularmente divididos quanto à posição a adotar em relação a Israel desde o início da guerra na Faixa de Gaza. Espanha é um dos poucos a demarcar-se, denunciando “o genocídio dos palestinianos”.

Teresa Ribera
Teresa Ribera
WANG Zhao

A comissária europeia espanhola Teresa Ribera classificou esta quinta-feira a situação na Faixa de Gaza como genocídio, lamentando a inação dos 27 Estados-membros da União Europeia (UE) sobre o assunto.

A vice-presidente executiva para uma Transição Limpa, Justa e Competitiva da Comissão Europeia é o primeiro membro do executivo europeu a emitir uma tal declaração.

"O genocídio em Gaza realça a incapacidade da Europa para agir e falar a uma só voz, mesmo com os protestos a alastrarem pelas cidades europeias", declarou Teresa Ribera, num discurso proferido na escola de ensino superior Sciences Po Paris.

Os 27 têm-se mostrado particularmente divididos quanto à posição a adotar em relação a Israel desde o início da sua guerra na Faixa de Gaza contra o movimento islamita palestiniano Hamas, em resposta ao ataque por este realizado horas antes em território israelita, a 07 de outubro de 2023, que fez cerca de 1.200 mortos e 251 reféns.

Vários países, entre os quais a Alemanha, insistem no direito de Israel a defender-se, em conformidade com o Direito Internacional, ao passo que outros, como Espanha, vêm há vários meses denunciando "o genocídio dos palestinianos em Gaza".

Estas divisões estão a paralisar qualquer ação europeia em relação a esta questão.

A Comissão Europeia decidiu, por isso, no final de junho, que Israel estava a violar um artigo do Acordo de Associação entre Israel e a UE relativo ao respeito dos direitos humanos.

Israel fala em declarações “inaceitáveis”

Como resposta, propôs a suspensão de determinados financiamentos europeus para empresas 'startups' israelitas, mas esta decisão ainda não recebeu 'luz verde' dos Estados-membros, apesar de semanas de negociações.

O Governo israelita já reagiu às declarações da comissária europeia Teresa Ribera, considerando-as "totalmente inaceitáveis".

"Em vez de repetir como papagaio o libelo de sangue do 'genocídio' disseminado pelo Hamas, Ribera deveria ter exigido a libertação de todos os reféns e que o Hamas deponha as armas para que a guerra possa terminar", declarou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros israelita, Oren Marmorstein, num comunicado.

Acusou também Ribera de se tornar "porta-voz da propaganda do Hamas", com "acusações infundadas" contra Israel.

"As palavras têm significado; os líderes têm responsabilidade; usar tais palavras é imprudente e totalmente inaceitável", concluiu.

Já morreram mais de 64 mil pessoas

A guerra de Israel no enclave palestiniano fez, até agora, pelo menos 64.231 mortos, na maioria civis, e 161.583 feridos, além de milhares de desaparecidos, presumivelmente soterrados nos escombros, e mais alguns milhares que morreram de doenças, infeções e fome, de acordo com números atualizados das autoridades locais, que a ONU considera fidedignos.

Prosseguem também diariamente as mortes por fome, causadas pelo bloqueio de ajuda humanitária durante mais de dois meses, seguido da proibição israelita de entrada no território de agências humanitárias da ONU e organizações não-governamentais (ONG).

Alguns mantimentos estão desde então a entrar a conta-gotas e a ser distribuídos em pontos considerados "seguros" pelo Exército, que regularmente abre fogo sobre civis palestinianos famintos, tendo até agora matado 2.356 e ferido pelo menos 17.244.

Há muito que a ONU declarou o território em grave crise humanitária, com mais de 2,1 milhões de pessoas numa "situação de fome catastrófica" e "o mais elevado número de vítimas alguma vez registado" pela organização em estudos sobre segurança alimentar no mundo, mas a 22 de agosto emitiu uma declaração oficial do estado de fome na cidade de Gaza e arredores.

Já no final de 2024, uma comissão especial da ONU acusara Israel de genocídio em Gaza e de estar a usar a fome como arma de guerra, situação também denunciada por países como a África do Sul junto do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), e uma classificação igualmente utilizada por organizações internacionais e israelitas de defesa dos direitos humanos.