Germano Almeida

Comentador SIC Notícias

Guerra Rússia-Ucrânia

Compreender o conflito: para a Rússia tudo o que atinge é "alvo militar"

Artigo de Germano Almeida, comentador SIC.

Compreender o conflito: para a Rússia tudo o que atinge é "alvo militar"
Alexey Furman

Dez pontos semanais para percebermos o que está a acontecer no Leste da Europa - e o que pode mudar na vida de todos nós.

1 - RÚSSIA DIZ QUE ATAQUE EM VINNYTSIA SE DESTINAVA A “ALVO MILITAR”

O Ministério da Defesa russo diz que atacou em Vinnytsia um “edifício de armazenamento militar” na cidade. Depois de no ataque mais de 70 pessoas terem ficado feridas e 23 terem morrido, entre elas várias crianças, o ministério de Putin justifica o ataque de “alta precisão” como um ataque direcionado a instalações militares.

As forças militares de Putin reclamam ter atacado o edifício onde estariam “reunidos militares ucranianos” que estariam a “tratar questões da transferência do próximo lote de aviões e armas para as forças armadas da Ucrânia”.

Entretanto, as universidades atacadas em Mykolaiv não deverão estar recuperadas antes do novo ano académico. Vitaliy Kim, governador da região de Mykolaiv, disse que cinco mísseis S-300 atingiram a Universidade de Construção Naval e outros quatro atingiram a Universidade de Mykolaiv.

O governante disse ainda que os danos “serão impossíveis de restaurar antes do início do novo académico”. Duas casas e onze apartamentos sofreram danos, acrescenta.

2 - RÚSSIA ANUNCIA CONCLUSÃO DE ACORDO PARA EXPORTAR CEREAIS DA UCRÂNIA

O Ministério da Defesa da Rússia anunciou que foi concluído o acordo para retomar a exportação de cereais da Ucrânia.

A "Iniciativa Mar Negro" estará concluída muito em breve. As propostas de Moscovo foram aceites por todas as partes presentes na conferência em que se discutiu o assunto na Turquia.

3 - UCRÂNIA RECEBERÁ 1,7 MIL MILHÕES EUROS PARA PAGAR SALÁRIOS NA SAÚDE

A ajuda dos EUA e do Banco Mundial é destinada a pagar os salários dos trabalhadores de saúde sitiados e a fornecer outros serviços essenciais.

O dinheiro começou a chegar na passada terça a partir da Agência para o Desenvolvimento Internacional dos EUA, do Departamento do Tesouro norte-americano e do Banco Mundial; destina-se a aliviar o pesado défice orçamental causado pela “brutal guerra de agressão” do Presidente russo.

Numa altura em que muitos médicos deixaram a Ucrânia, alguns hospitais fecharam e outros hospitais foram bombardeados, os profissionais de saúde que permanecem no país fazem o seu trabalho em circunstâncias difíceis.

4 - ZELENSKY: “É UMA QUESTÃO DE SEGURANÇA GLOBAL PUNIR A RÚSSIA, UM ESTADO TERRORISTA, POR TUDO O QUE FEZ CONTRA A UCRÂNIA”

O Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, classifica a Rússia como "um estado terrorista". "É uma questão de segurança global punir a Rússia, um estado terrorista, por tudo o que fez contra a Ucrânia e o direito internacional".

O Conselho da União Europeia aprovou na passada terça-feira uma assistência macrofinanceira de mil milhões à Ucrânia, ascendendo assim a 2,2 mil milhões de euros o apoio já prestado a Kiev desde o início da invasão russa, em fevereiro passado.

5 - EUA E JAPÃO CONCORDAM EM REFORÇAR SANÇÕES CONTRA A RÚSSIA

O ministro das Finanças japonês e a secretária do Tesouro dos EUA reuniram-se em Tóquio e concordaram em reforçar as sanções contra a Rússia, apoiando assim a Ucrânia e combatendo a instabilidade económica provocada pela invasão.

"Estamos unidos na nossa forte condenação da guerra não provocada, injustificável e ilegal e continuaremos a aumentar o custo da guerra para Rússia através de sanções económicas e financeiras", disseram os dois responsáveis do Japão e dos EUA, Shunichi Suzuki e Janet Yellen num comunicado conjunto.

Os dois países concordaram em coordenar a abordagem das consequências económicas da invasão da Ucrânia pela Rússia em fevereiro e do impacto negativo da mesma na volatilidade das taxas de câmbio e na economia.

6 - ALEMANHA ESTÁ A BLOQUEAR HÁ MAIS DE UM MÊS 9 MIL MILHÕES DE EUROS DE AJUDA À UCRÂNIA

Notícias saídas na imprensa de Itália e Ucrânia nos últimos dias apontam no sentido da ministra das Finanças da Alemanha, Christian Lindner, ser contra a ajuda planeada a Kiev, por causa de preocupações com a dívida europeia.

Mais um sinal que aponta para as reservas do Governo de Berlim sobre como lidar com a ajuda à Ucrânia.

7 - CANADÁ CEDE À PRESSÃO DA ALEMANHA E DEVOLVE TURBINA AO REGIME RUSSO

O Canadá decidiu desafiar as objeções ucranianas e vai devolver a turbina russa que é necessária no gasoduto Nord Stream 1. O Governo canadiano escolheu ajudar a Europa no acesso ao gás natural; equipamentos reparados irão ser devolvidos à Alemanha apesar das contestações da Ucrânia contra a crise de energia que espoletou com o início do conflito armado.

O ministro dos Recursos Naturais do Canadá, Jonathan Wilkinson, afirma que o Governo vai emitir uma permissão “limitada e revogável” que isenta o retorno das turbinas das sanções russas para ajudar “a Europa a aceder à energia de forma mais acessível enquanto continuam a transição energética para se afastarem do gás e óleo russo; licença desta exportação foi conseguida depois de uma discussão “com os aliados europeus” e com a Agência Internacional de Energia.

A empresa russa de gás, a Gazprom, cortou em 40% a capacidade do gasoduto Nord Stream 1 para a Europa devido aos atrasos do retorno dos equipamentos que estão a ser utilizados pela empresa Siemens Energy da Alemanha, no Canadá. As peças são necessárias para trabalhos de manutenção russos, pelo que Putin reforçou que se a turbina fosse devolvida iria aumentar o fornecimento de gás para toda a Europa.

A Alemanha, um país muito dependente da energia russa, pressionou o Canadá para encontrar uma forma de devolver a turbina pois os alemães podem vir a sofrer grandes consequências económicas além de não conseguirem aquecer as suas casas no próximo inverno; turbina vai ser enviada para a Alemanha, e posteriormente entregue à Gazprom, controlada pelo regime russo.

O congresso nacional ucraniano já reagiu e revela estar “desapontado com a decisão do governo canadiano em ceder à chantagem russa podendo estabelecer um precedente perigoso que pode levar ao enfraquecimento das sanções impostas à Rússia”, diz a Presidente Alexandra Chyczij.

8 - ALEMANHA E CHÉQUIA FAZEM ACORDO PARA REDUZIR DEPENDÊNCIA DO GÁS RUSSO

A Alemanha e a Chéquia assinaram uma declaração conjunta, comprometendo-se a superar a dependência russa de combustíveis fósseis e acelerar a transição para energia de baixo carbono.

“Vamos finalizar o acordo sobre medidas de solidariedade para salvaguardar a segurança do fornecimento de gás entre nossos países antes do início da próxima temporada de inverno”, diz a declaração.

Entretanto, o ministro da Finanças de França, Bruno Le Maire, disse que o cenário mais provável é o corte total da distribuição de gás fornecido pela Rússia, quando se dirigia a economistas, numa conferência.

O Governo francês trabalha para identificar as empresas que devem ter proteção prioritária em caso de interrupção deste fornecimento. Cerca de 17% do abastecimento de gás na França vem da Rússia.

9 - RÚSSIA RESTRINGE ACESSO A JORNAL ALEMÃO “DIE WELT”

A Rússia restringiu o acesso ao jornal alemão “Die Welt”. Não há uma razão concreta conhecida até ao momento, no entanto, as autoridades russas têm acusado o ocidente de uma campanha de informação falsa sobre o país e a “operação especial” (expressão a que reduz a invasão) na Ucrânia.

Outros órgãos de comunicação estrangeiros que já sofreram restrições na Rússia são a BBC e o Voice of America.

10 - VIAGEM HISTÓRICA DE BIDEN A ISRAEL E ARABIA SAUDITA

Biden começou na terça-feira uma viagem histórica de quatro dias ao Médio Oriente. Esteve em Israel e na Autoridade Palestina e depois voou diretamente para Jeddah, na Arábia Saudita, para reuniões com a liderança saudita e participará na Cimeira do GCC+3 - composta pelos líderes do Conselho de Cooperação do Golfo, aos quais se juntaram os líderes do Egito, Jordânia e Iraque.

Biden defendeu assim a polémica decisão de visitar a Arábia Saudita: “Como presidente, é meu trabalho manter nosso país forte e seguro. Temos que combater a agressão da Rússia, colocar-nos na melhor posição possível para superar a China e trabalhar por maior estabilidade numa região sensível do mundo".

"Para fazer essas coisas, temos que nos envolver diretamente com países que podem impactar esses resultados. A Arábia Saudita é um deles, e quando eu me encontrar com líderes sauditas na sexta-feira, o meu objetivo será fortalecer uma parceria estratégica daqui para frente, baseada em interesses e responsabilidades mútuos, mantendo-se fiel aos valores americanos fundamentais”, acrescenta o Presidente dos EUA.

A visita de Biden gerou críticas, uma vez que os serviços de informação norte-americanos consideraram o príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman responsável por ordenar o assassinato do jornalista dissidente Jamal Khashoggi. Como candidato a presidente, Biden havia prometido tornar o reino um "pária".

Biden tem como objetivo contribuir para um Médio Oriente mais integrado e estável, chamando a região de "essencial para o comércio global e as cadeias de suprimentos em que confiamos" de sanções à Rússia na sequência da sua invasão da Ucrânia: “Uma região que está a unir-se pela diplomacia e cooperação - em vez de se separar pelo conflito - tem menos probabilidade de dar origem a extremismo violento que ameaça os EUA ou novas guerras que podem sobrecarregar as forças militares dos EUA e suas famílias".

Biden criticou o seu antecessor, Donald Trump, por abandonar o acordo nuclear com o Irão e disse que o seu Governo "continuará a aumentar a pressão diplomática e econômica até que o Irão esteja pronto para voltar a cumprir o acordo nuclear de 2015, como continuo preparado para fazer".

A visita a Israel refletiu o desejo de Biden demonstrar mais uma vez o seu compromisso excepcional com Telavive; já a visita à Arábia Saudita visa promover os interesses imediatos dos EUA: influenciar os preços do petróleo, restaurar a posição dos EUA no Médio Oriente e expandir a coordenação militar regional em relação à ameaça do Irão.

Em reuniões com a liderança palestina, o Presidente dos EUA reiterou o seu compromisso com uma solução de dois Estados, mas não há expectativas de um avanço político.

O Irão é o foco da visita de Biden ao Médio Oriente: o futuro do acordo nuclear ainda é incerto, e o Governo está ciente da necessidade de se preparar para uma realidade onde não há acordo e o Irão continua com um programa nuclear ativo. A coordenação estreita entre Israel e os Estados Unidos é imperativa; Israel deve garantir o apoio contínuo dos EUA à "campanha entre guerras" e, em coordenação com os estados árabes, enfatizar o valor da presença americana no Iraque e na Síria

Biden defende que a viagem à Arábia Saudita será importante para colocar na agenda os direitos humanos. O seu objetivo é reorientar e não romper relações com um país que é parceiro estratégico dos EUA há 80 anos. Biden argumentou que a Arábia Saudita recentemente ajudou a restaurar a unidade entre os seis países do Conselho de Cooperação do Golfo, apoiou totalmente a trégua no Iémen e está a trabalhar para estabilizar os mercados de petróleo com outros produtores da OPEP.

O líder da Casa Branca vê a sua passagem direta de Israel para a Arábia Saudita como um pequeno símbolo de “relações e passos em direção à normalização” entre Israel e o mundo árabe: “Serei o primeiro Presidente a visitar o Médio Oriente desde o 11 de setembro sem tropas americanas envolvidas em uma missão de combate lá”.