Germano Almeida

Comentador SIC Notícias

Guerra Rússia-Ucrânia

Compreender o conflito: o agressor russo à procura de amigos

Artigo de Germano Almeida, comentador SIC

Os Presidentes da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, e da Rússia, Vladimir Putin
Os Presidentes da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, e da Rússia, Vladimir Putin
SPUTNIK

Dez pontos semanais para percebermos o que está a acontecer no Leste da Europa – e o que pode mudar na vida de todos nós.

1 – PUTIN: "EUROPA DEVE ESTAR GRATA À TURQUIA"

Os presidentes da Rússia e da Turquia falaram durante quatro horas em Socchi. Os líderes concordaram em "aprofundar" relações entre Moscovo e Ancara e emitiram um comunicado conjunto em que reafirmam a sua "vontade comum" em "aprofundar" as relações entre a Rússia e a Turquia, baseando-se no "respeito mútuo e no reconhecimento de interesses recíprocos" — isto apesar de "dos desafios regionais e globais". Putin foi mais longe: "A Europa deve estar grata à Turquia".

2 – RÚSSIA QUER TURQUIA NOS BRICS E NÃO QUER FALAR COM A FRANÇA DE MACRON

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, em comunicação feita antes do encontro dos presidentes turco e russo em Socchi, antecipou que os dois líderes poderiam discutir a entrada da Turquia nos BRICS, uma associação que inclui economias emergentes ccomo o Brasil, a Rússia, a Índia, a China e a África do Sul. Peskov apontou ainda que que neste momento seja “necessário uma conversa telefónica” entre o Presidente russo, Vladimir Putin, e o seu homólogo francês, Emmanuel Macron. O porta-voz lembrou que “França é um Estado hostil” por conta das “ações” que está a tomar contra a Rússia.

3 – RÚSSIA USA ROTA ALTERNATIVA PARA CARREGAMENTOS DE PETRÓLEO PARA CONTORNAR SANÇÕES

A Rússia usa rota alternativa para carregamentos de petróleo num pequeno e escondido porto no Egito, em El Hamra, no Mediterrâneo, de forma a contornar sanções ocidentais. E Moscovo e Teerão aprofundam relação de ajuda mútua: a agência espacial russa vai lançar em órbita um satélite em nome do Irão. O Kremlin pode estar a fazer isto para incentivar ou pagar a Teerão pelos drones iranianos que forem usados na Ucrânia.

4 – UCRÂNIA PODERÁ EXPORTAR TRÊS A CINCO MILHÕES DE TONELADAS DE CEREAIS POR MÊS

A Ucrânia poderá exportar três a cinco milhões de toneladas de cereais por mês. O ministro da Política Agrária da Ucrânia disse que o país poderá exportar entre três a cinco milhões de toneladas de cereais por mês, caso o acordo assinado pelo país e pela Rússia se mantenha. Lembrando as últimas previsões sobre as colheitas, Mykola Solskyi referiu que poderão ser colhidas entre 65 e 67 milhões de toneladas de cereais, o que permite exportar 50 milhões.

5 – MAIS TRÊS NAVIOS COM CARREGAMENTOS DE MILHO PARA EXPORTAÇÃO PARTIRAM DE PORTOS UCRANIANOS

Partiram da Ucrânia mais três navios com carregamentos de milho para exportação, ao abrigo do acordo mediado pela Turquia e a ONU. Ao todo, os navios transportam mais de 58 mil toneladas de milho e têm como destino a Irlanda, o Reino Unido e a Turquia; o ministro das Infraestruturas do país, Oleksandr Kubrakov, disse esperar que as exportações de bens alimentares “se tornem estáveis e previsíveis” para todos os intervenientes no mercado. Nas redes sociais, acrescentou mesmo que planeia assegurar que os portos ucranianos tenham a capacidade de abastecer mais de 100 navios por mês

Enquanto isso, um cargueiro - o primeiro desde o início da invasão russa - chegará a um porto ucraniano, no caso Chornomorsk, um dos três visados nos acordos, ao lado de Yuzhne e Odessa.

6 – UCRÂNIA ACUSA RÚSSIA DE ROUBAR 650 MIL TONELADAS DE CEREAIS

O Serviço de Segurança da Ucrânia acusou a Rússia de ter roubado mais de 650 mil toneladas de cereais, no valor de 200 milhões de dólares. Chegou à Síria navio acusado de transportar cereais ucranianos roubados. Os cereais foram recolhidos de zonas ocupadas pelos russos em Kherson e Zaporíjia. O bloqueio naval russo no Mar Negro fez com que a Ucrânia tivesse de recorrer ao transporte ferroviário e viário, mas com eficácia baixa. Ao não conseguir exportar em quantidades significativas, tendo em conta que há mais de 20 milhões de toneladas de cereais por escoar, os preços globais dos alimentos dispararam.

7 – ZELENSKY PEDE PARA FALAR COM XI

O Presidente da Ucrânia quer ajuda da China para acabar com a guerra. Zelensky já tentou conversa com Xi mas até agora sem sucesso. Em entrevista ao South China Morning Post explica: “A China é um estado muito poderoso. É uma economia poderosa. Pode influenciar política e economicamente a Rússia. E a China é também membro permanente do conselho de segurança da ONU.”

8 – ONU ABRE INVESTIGAÇÃO A ATAQUE À PRISÃO DE OLENIVKA

O anúncio feito por António Guterres: a ONU quer saber a verdade sobre as explosões ocorridas na semana passada na prisão de Olenivka, numa zona separatista pró-russa, no leste da Ucrânia. Guterres: “Esperamos obter todas as facilidades de acesso de ambas as partes e conseguir os dados necessários para apurar a verdade sobre o ocorrido". Dezenas de pessoas morreram no passado dia 28 de julho, segundo o exército russo, após explosões na prisão de Olenivka; Moscovo acusou Kiev de ter bombardeado a prisão, mas as autoridades ucranianas refutam as acusações e afirmam que, pelo contrário, os prisioneiros foram massacrados pelas forças russas.

9 – O QUE SE PASSA NA CENTRAL NUCLEAR DE ZAPORÍJIA?

O ministério da Defesa do Reino Unido indica que as intenções russas na central nuclear de Zaporíjia continuam a “não ser claras” e “as ações que empreenderam” no local “provavelmente prejudicaram a segurança e a proteção das operações normais da central”.

10 – ZELENSKY ATACA AMNISTIA INTERNACIONAL

Zelensky ataca Amnistia Internacional: relatório "não pode ser tolerado”.

O presidente da Ucrânia atacou a Amnistia Internacional, depois de esta ter acusado as suas forças de violar a lei internacional e colocar civis em perigo, na sua defesa contra a invasão da Rússia. A Amnistia listou incidentes em 19 cidades e vilas em que as forças ucranianas parecem ter colocado civis em perigo ao estabelecer bases em áreas residenciais – descobertas que Zelensky equiparou à culpabilização da vítima no seu discurso noturno. O grupo de direitos humanos, disse Zelensky, procurou oferecer “amnistia (ao) Estado terrorista e transferir a responsabilidade do agressor para a vítima”. “Não há nenhuma condição, mesmo hipoteticamente, sob a qual qualquer ataque russo à Ucrânia se justifique. Se alguém fizer uma denúncia em que a vítima e o agressor são supostamente iguais de alguma forma... então isso não pode ser tolerado”. Relatório publicado da organização não governamental mostra que tropas ucranianas estão a instalar bases militares em zonas residenciais, escolas e hospitais, em violação das leis da guerra. O Governo ucraniano fala em “injustiça”, mas não explica relatos detalhados pela investigação.