Guerra Rússia-Ucrânia

Discurso do Estado da Nação: Putin acusa o Ocidente de fomentar conflitos

O primeiro discurso sobre o Estado da Nação feito por Putin em quase dois anos, aconteceu três dias antes de ser assinalado o primeiro aniversário da ofensiva militar russa na Ucrânia, iniciada na madrugada de 24 de fevereiro de 2022.

Discurso do Estado da Nação: Putin acusa o Ocidente de fomentar conflitos
Dmitry Astakhov/ AP

O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, criticou as nações ocidentais no seu discurso anual há muito adiado, acusando-as de fomentar conflitos. Quando faltam três dias para assinalar o primeiro ano do início da guerra na Ucrânia, o Presidente russo avaliou os progressos da campanha militar e a situação internacional, no discurso do Estado da Nação.

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"É um momento histórico para o nosso povo", começou por dizer Putin no discurso sobre o Estado da Nação, que teve início poucos minutos depois das 9:00 de Lisboa, 12:00 em Moscovo.

Putin garantiu que a Rússia alcançará os seus objetivos na Ucrânia "passo a passo", ao mesmo tempo que descreveu o momento que o país vive como "difícil".


"Para garantir a segurança do nosso país, para eliminar a ameaça representada pelo regime neonazi que surgiu na Ucrânia após o golpe de 2014, foi decidido realizar uma operação militar especial. Passo a passo, com cuidado e consistentemente, alcançaremos as tarefas que estamos enfrentando", disse Putin, no seu discurso sobre o Estado da Nação perante as câmaras do Parlamento.

Putin sublinhou: "Passo a passo, com cuidado e consistência, vamos resolver as tarefas que enfrentamos".

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Desde 2014, o Donbass “lutou, defendeu o direito de viver em sua própria terra, falar sua língua nativa, lutou e não desistiu sob as condições do bloqueio e bombardeios constantes, o ódio indisfarçável do regime de Kiev e acreditaram e esperaram que a Rússia viesse em seu socorro”, disse Putin.


O chefe do Kremlin referiu que, entretanto, a Rússia fez "todo o possível" para resolver o problema por meios pacíficos e "negociou pacientemente" uma saída pacífica deste conflito "muito difícil".

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Vladimir Putin acusou os Estados Unidos e o G7 de fornecerem armamento à Ucrânia e afirmou: “Foram eles que que desencadearam a guerra”.

Putin considerou ainda que o Ocidente "simplesmente ganhou tempo", envolveu-se "em truques e fechou os olhos para assassinatos políticos, repressões do regime de Kiev, troça dos crentes e cada vez mais encorajou os neonazistas ucranianos a liderar ações terroristas em Donbass".

“O planeta está cheio de bases americanas (… ) Defendemos a vida, o Ocidente quer poder”, disse o Presidente russo.

"E quero enfatizar que, mesmo antes do início da operação militar especial, Kiev estava a negociar com o Ocidente o fornecimento de sistemas de defesa aérea, aeronaves de combate e outros equipamentos pesados para a Ucrânia", alegou, enquanto acusava, novamente, a Ucrânia de ter tentado "adquirir armas nucleares".

Putin prosseguiu, apontando várias críticas às sociedades ocidentais.

“Atacam a nossa cultura, a nossa igreja (…) e querem obrigar os sacerdotes a abençoarem casamentos homossexuais. A família é a união de um homem e de uma mulher”.

Após o rol de críticas ao Ocidente, Putin dirigiu-se ao país e agradeceu “ao povo da Rússia pela coragem”.

"Mas um cenário completamente diferente estava a ser preparado nas nossas costas. As promessas dos governantes ocidentais, as suas garantias sobre o desejo de paz em Donbass acabaram sendo, como vemos agora, uma falsidade, uma mentira cruel", disse.


Estes são, disse, "os acontecimentos históricos mais importantes que determinam o futuro do nosso país e do nosso povo, quando cada um de nós tem uma grande responsabilidade".

SERGEI ILNITSKY

Rússia suspende participação no tratado sobre armas nucleares

O Presidente russo declarou que Moscovo suspende a sua participação no tratado New START, o último pacto de controlo de armas nucleares que restava com os Estados Unidos, aumentando a tensão com Washington.

Vladimir Putin disse também que a Rússia deveria estar pronta a retomar os testes de armas nucleares se os Estados Unidos o fizessem, uma medida que poria fim à proibição global de testes de armas nucleares, em vigor desde os tempos da Guerra Fria.

Explicando a sua decisão de suspender as obrigações da Rússia no âmbito do New START, Putin acusou os Estados Unidos e os seus aliados da NATO de declararem abertamente o objetivo da derrota da Rússia na Ucrânia.

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Avaliação da situação económica do país


O Presidente russo garante a solidez da economia russa em vários setores e sublinha a intenção de “alargar as relações económicas internacionais”. Vladimir Putin faz a avaliação dos vários setores, desde a agricultura à tecnologia.

No seguimento da avaliação da situação económica do país, Putin garante: “A inflação da Rússia será de 4%”.

“A Rússia deve trabalhar no desenvolvimento do país”, apela o Presidente da Rússia.

O Kremlin não permitiu que meios de comunicação social de países considerados como "inimigos" obtivessem acreditação para fazer a cobertura mediática do discurso.


O dia escolhido para o discurso coincide com a data em que Vladimir Putin assinou o reconhecimento da independência das repúblicas separatistas de Lugansk e de Donetsk, na região do Donbass (leste ucraniano).


Nesse mesmo dia, 21 de fevereiro de 2022, Putin ordenou a mobilização do Exército russo para "manutenção da paz" nos territórios separatistas pró-russos no leste da Ucrânia, um prelúdio para o início da ofensiva militar contra a Ucrânia que aconteceria poucos dias depois.