Guerra Rússia-Ucrânia

Cinco histórias de cinco mulheres ucranianas que há um ano resistem à guerra

Completam-se esta sexta-feira 365 dias de guerra na Ucrânia, mas sem fim à vista. Neste dia, em que se assinala um ano de uma tragédia que levou à maior crise de refugiados na Europa desde a II Guerra Mundial, contamos-lhe a história de Valentyna, Olya, Tamara, Nadiia e Inna. Mulheres de diferentes gerações mas com uma guerra em comum.

Cinco histórias de cinco mulheres ucranianas que há um ano resistem à guerra
UNHCR/Victoria Andrievska

Sem o fim tão desejado no horizonte, esta sexta-feira assinala-se um ano de guerra na Ucrânia. A ofensiva militar lançada na madrugada de 24 de fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia provocou milhares de mortos e feridos, mas também uma fuga de pessoas só comparada com a II Guerra Mundial: mais de 14 milhões - 6,5 milhões de deslocados internos e mais de oito milhões para países europeus.

Esta é já classificada, pelas Nações Unidas, como a pior crise de refugiados na Europa desde a segunda Grande Guerra. Em simultâneo, há outra situação que se agrava de dia para dia e que “requer uma resposta a longo prazo”: mais de 17 milhões de ucranianos precisam de apoio urgente.

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), uma das organizações que desde as primeiras horas deste conflito entrou em ação, partilhou cinco histórias de resiliência de cinco mulheres de diferentes gerações e que “representam todos aqueles que sofrem com as atrocidades desta guerra”.

Inna recorda que naquele fatídico 24 de fevereiro nem percebeu o que se estava a passar. “Sentada no comboio, lembro-me de toda a gente escolher o país para onde ia. Era muito estranho tudo para mim, a primeira vez que me senti como uma refugiada. Pensava que ia só por uma semana, estava muito longe de entender os contornos desta guerra”, recorda.

Atualmente, Inna está a viver na Polónia mas alimenta “o sonho e a esperança” de um dia voltar a casa: a Ucrânia.

Com 65 anos, Tamara decidiu ficar em Chernihiv, mas não esquece o que viu acontecer ao seu bairro na cidade, que durante mais de um mês foi alvo de bombardeamentos russos, com mísseis e rockets, que para trás deixavam um rasto de morte, devastação e destruição. Famílias inteiras faziam o que podiam para se refugiarem em caves e abrigos ou procurarem refúgio em outras regiões do país.

“Sinto que não fomos deixados sozinhos para lidar com a nossa tragédia. Toda esta entreajuda dá-me força e esperança na humanidade”, diz Tamara.

Apesar dessa entreajuda, há traumas que ficam. “Agora, sempre que oiço ruídos altos, fico assustada. Só consigo imaginar aquela bomba”, confessa Olya que, conta o ACNUR, manifesta sinais de stress pós-traumático.

No terreno, para quem optou por ficar, a vida não é tudo menos fácil e só piorou com a chegada do inverno e do tempo frio.

“Há cortes de energia elétrica de três ou quatro horas duas vezes por dia. As divisões arrefecem em apenas uma hora, e ainda nem sequer está a congelar no exterior”, descreve Valentyna, de 55 anos que foi obrigada a mudar-se temporariamente para uma casa modular fornecida pelo ACNUR depois de a sua casa em Borodyanka, uma das cidades nos arredores de Kiev tomada pelo exército russo no início da guerra, ficar totalmente destruída.

Os últimos relatórios do ACNUR, indicam que, apesar dos esforços, aproximadamente 17,6 milhões de pessoas na Ucrânia continuam a precisar de apoio urgente. É por isso importante manter os “programas de proteção e de abrigo, para apoiar as famílias que enfrentam o frio rigoroso, muitas a viver em casas danificadas ou destruídas e com falta de eletricidade, aquecimento e água”, apela Joana Brandão, diretora nacional da Portugal com ACNUR.

Além disso, o ACNUR disponibiliza habitação temporária no terreno, o que "tem sido essencial para muitas famílias que quiseram voltar a partir de maio, junho e julho do ano passado à Ucrânia. Como foi o caso de Valentyna e Nadiia.

“A construção demorou apenas algumas semanas (…). E até pude escolher colocar a minha casa junto das minhas flores, para poder estar perto delas”, conta Nadiia, que voltou a ter uma casa com condições junto da antiga casa.

O coordenador de Operações Sénior do ACNUR, Gabinete Regional para a Europa, Filippo Rossi, sublinha que “a reconstrução é outro dos passos essenciais para o futuro do povo ucraniano. Com casas danificadas ou totalmente destruídas, é necessário empreender esforços para potenciar o regresso dos seus habitantes. Até porque é a vontade da maioria”.

Sabemos que um grande número dos ucranianos quer regressar” mas, e apesar do esforço do ACNUR e outras organizações que estão no terreno, a guerra leva já um ano e não há sinal de que o fim esteja próximo. Teme-se, aliás, que precisamente para assinalar estes 365 dias de invasão, a Rússia marque a sua posição com uma forte ofensiva - que pode até estar já em curso.