Uma adolescente russa colocada num centro para menores depois de o seu pai ter sido alegadamente condenado por desacreditar o exército russo na Ucrânia, foi proibida qualquer contacto com o mundo exterior, denunciou esta quarta-feira a ONG especializada OVD-Info.
"Maria Moskalev, que acabou num centro para menores depois de o seu pai, Alexei Moskalev, ter sido colocado em prisão domiciliária, não tem permissão para lhe telefonar ", disse a organização, após ter falado com o advogado da família.
A história remonta a abril de 2022, quando a estudante de 13 anos da região de Tula, no sul de Moscovo, fez um desenho numa aula de artes plásticas contra a intervenção militar russa na Ucrânia. Ela escreveu no desenho "Não à guerra" e "Glória à Ucrânia", de acordo com o órgão russo independente Meduza.io (com sede em Riga).
No mesmo mês, Moskalev foi condenado por um tribunal local a uma multa de 32.000 rublos (400 euros à taxa atual) por ter escrito comentários nas redes sociais criticando a ofensiva russa.
Quase um ano depois, no dia 1 de março, a polícia voltou à casa da adolescente e do seu pai, que foi acusado de ter "desacreditado o exército" com novas publicações online, explica a Meduza.
Foi nessa ocasião que Moskalev foi colocado em prisão domiciliária pelas autoridades e sua filha levada para um centro de menores em Yefremov, noticiou com a agência de notícias russa Ria Novosti.
Uma petição online lançada em apoio ao pai e à sua filha reuniu 65.000 assinaturas até esta quarta-feira.
A ofensiva russa na Ucrânia, iniciada em 24 de fevereiro de 2022, é oficialmente chamada na Rússia de "operação militar especial", e as autoridades introduziram uma lei que prevê até 15 anos de prisão para qualquer publicação de informações sobre o exército russo consideradas falsas.
Milhares de russos que criticaram publicamente o conflito ou supostos abusos das forças russas na Ucrânia foram julgados e condenados a multas ou prisão, que se tornaram símbolos da repressão contínua de qualquer crítica à "operação militar especial".
Em entrevista à Lusa, divulgada no sábado, a historiadora Anne Applebaum, vencedora do Prémio Pulitzer, e especializada na Europa de Leste também recordou o caso da menina e do seu pai, apontando que estes métodos sugerem "reminiscências dos tempos soviéticos", no controlo total da vida e opinião pública:
Na sua presidência , segundo a professora na London School of Economics, Vladimir Putin tolerou "por um longo tempo uma certa dose de dissidência, desde que esta não fosse muito popular", ao nível de partidos políticos ou imprensa independentes.
"Isso começou a mudar e, no último ano, tornou-se muito dramático desde que a guerra começou", sustentou, acrescentando que "agora, sinais muito pequenos de dissidência ou desacordo com a política de guerra podem ter consequências muito drásticas".