A Rússia está disposta a aceitar uma extensão do acordo para a exportação de cereais e fertilizantes ucranianos através do mar Negro, mas só durante 60 dias. O Kremlin diz esperar alterações na forma de funcionamento do acordo que expira no próximo sábado.
“Não temos objeções a estender a iniciativa (Iniciativa dos Cereais do Mar Negro), mas só durante 60 dias”, sublinhou Serguéi Vershinin, vice-ministro russo dos Negócios Estrangeiros, através de um comunicado
Em julho de 2022, as Nações Unidas e a Turquia negociaram acordos paralelos com a Ucrânia e a Rússia que permitem, respetivamente, a Kiev enviar alimentos e fertilizantes de três dos portos ucranianos no Mar Negro, e a Moscovo exportar de alimentos e fertilizantes. O acordo - que ajudou a aliviar parte do impacto do aumento global dos preços dos alimentos - foi renovado em novembro de 2022, mas expira no próximo sábado.
Acordo permitia a exportação de alimentos e fertilizantes russos, mas apenas resultou na saída de poucos fertilizantes
Moscovo não esconde a frustração, alegando que o acordo assinado em paralelo para permitir a exportação de alimentos e fertilizantes russos, usados em todo o mundo, resultou apenas na saída de poucos fertilizantes nenhuns cereais russos.
Por isso, o Kremlin considera que o acordo deve ser modificado, no futuro, e deu instruções à sua equipa de negociações em Genebra para não aceitar propostas de prolongamento que vão para além de 60 dias.
"A conversa abrangente e franca confirmou mais uma vez que, embora a exportação comercial de produtos ucranianos seja realizada em ritmo constante, trazendo lucros consideráveis para Kiev, ainda existem restrições aos exportadores agrícolas russos", disse a delegação russa, em comunicado.
No quadro deste acordo, Moscovo quer que o amoníaco russo seja transportado por um oleoduto através da Ucrânia para chegar aos portos do Mar Negro para possível exportação. A chamada Iniciativa dos Cereais do Mar Negro envolve verificações marítimas de carga por funcionários da ONU, russos, ucranianos e turcos para garantir que apenas alimentos -- e não armas -- estejam a ser transportados.
Por outro lado, as autoridades russas queixam-se de que as restrições bancárias e os altos custos dos seguros prejudicaram as suas esperanças de exportar fertilizantes.
Nações Unidas e Rússia retomaram as negociações para tentar relançar acordo de cereais
Por outro lado, as autoridades russas alegam que as restrições bancárias e os altos custos com seguros prejudicaram as ambições para exportar fertilizantes.
As Nações Unidas e a Rússia retomaram, esta segunda-feira, as negociações para tentar relançar o acordo.
Embora o acordo de cereais tenha ajudado a estabilizar os preços globais dos alimentos, ainda há preocupações sobre o impacto nos preços de possíveis restrições comerciais, bem como de questões climáticas, especialmente as ondas de calor, explicou Michael Puma, diretor do Centro de Investigação de Sistemas Climáticos da Universidade de Colúmbia.
Acordo de cereais foi assinado em julho com a mediação da Turquia e Nações Unidas
A Ucrânia já reagiu e diz que a proposta russa contradiz a decisão inicial. Recorde-se que o acordo de cereais entre a Rússia e a Ucrânia foi assinado em julho do ano passado com a mediação da Turquia e Nações Unidas.
Acordo está em vigor até ao próximo sábado, 18 de março, tendo já permitido exportar desde julho mais de 23 milhões de toneladas de produtos alimentares, sobretudo cereais ucranianos, pelo Mar Negro.
