Guerra Rússia-Ucrânia

Contraofensiva ucraniana ganhará intensidade, mas é um processo "gradual"

A contraofensiva da Ucrânia é um processo "gradual" que se encontra numa fase de reconhecimento das linhas defensivas russas e que ganhará progressivamente intensidade, disse Mikhail Podoliak, conselheiro do gabinete presidencial ucraniano.

Imagem de Bakhmut (21 de março de 2023)
Imagem de Bakhmut (21 de março de 2023)
UKRAINIAN ARMED FORCES

O conselheiro presidencial ucraniano explicou que a fase atual da campanha está a "moldar" a própria contraofensiva através de ações que "permitem testar os sistemas de defesa russos".

"A contraofensiva não é uma ação única, mas muitas operações diferentes e graduais, cuja intensidade vai aumentar", disse Podoliak numa entrevista à agência noticiosa espanhola EFE, aludindo à campanha militar ucraniana que começou há mais de duas semanas em três setores diferentes da frente nas províncias de Donetsk, no leste, e Zaporijia, no sudeste.

Podoliak, uma das figuras mais influentes e populares da administração do Presidente Volodymyr Zelensky, recordou que as forças russas colocaram minas e construíram fortificações nos territórios ucranianos que ocupam, para atrasar o avanço das tropas ucranianas.

Russos não dispõem dos "instrumentos adequados"

No entanto, o conselheiro do gabinete presidencial ucraniano afirmou que os russos não dispõem dos "instrumentos adequados" para defender toda a linha da frente e advertiu que o exército russo começou a utilizar métodos "terroristas" para compensar essas deficiências.

O exemplo mais claro desses métodos "terroristas", disse Podoliak, é a recente explosão da barragem e de outras infraestruturas da central hidroelétrica de Nova Kakhovka, no território ocupado pelos russos na região de Kherson, no sul da Ucrânia.

A destruição da barragem com explosivos causou inundações catastróficas para a população e os ecossistemas da região e pôs em risco o acesso à água potável para centenas de milhares de pessoas, tendo também destruído sistemas de irrigação vitais para grande parte do sul da Ucrânia.

Podoliak considera que tais ações não afetarão significativamente a contraofensiva ucraniana.

"Mas afetarão as infraestruturas e as regiões onde ocorrem, como foi o caso em Kherson", acrescentou.

As autoridades de Kiev têm-se repetidamente queixado de que a Rússia procura intimidar os ucranianos e aliados e castigar a população ucraniana com tais ações.

Rússia está a preparar um "ato terrorista"

Horas depois da entrevista de Podoliak à EFE, refere a agência noticiosa espanhola, Zelensky afirmou ter obtido informações dos serviços secretos ucranianos de que a Rússia está a preparar um "ato terrorista" na central nuclear de Zaporijia.

O "ato terrorista" consistiria em provocar uma fuga de radiação.

Numa mensagem publicada no Twitter, Podoliak explicou a lógica que levaria a Rússia a considerar esta opção: "A Rússia é incapaz de manter o controlo de Energodar (a localização da central nuclear) a médio prazo e está, por isso, a considerar um ataque terrorista em grande escala".

O conselheiro presidencial insistiu no facto de a Rússia ter minado a central nuclear e poder também destruir uma barragem na zona de Krivi Rig com mísseis do tipo Kinzhal.

Além da contraofensiva já iniciada, Podoliak sublinhou, durante a entrevista, que a Ucrânia está a trabalhar com os aliados para estabelecer um modelo "estratégico" de produção de armas que lhe permita satisfazer as necessidades de defesa a longo prazo.

"Estamos a procurar opções para construir um centro de reparação [de equipamento militar] na Ucrânia ou em países próximos", disse Podoliak, apontando para medidas legislativas que eliminam impostos e obstáculos legais à produção de 'drones' (aparelhos voadores não tripulados) e outros bens de defesa.

O conselheiro presidencial sublinhou ainda a importância de manter as sanções internacionais contra a Rússia e de tomar medidas para impedir que Moscovo continue a importar componentes eletrónicos de países que o proíbem, para fabricar os mísseis que utiliza para atacar a Ucrânia.