Guerra Rússia-Ucrânia

Análise

Central nuclear de Zaporíjia: "Há um grande medo da radiação na sociedade"

Bruno Soares Gonçalves, comentador SIC e presidente do Instituto de Plasmas e Fusão Nuclear, analisa a potencialidade e riscos de um acidente nuclear em Zaporíjia devido à escalada de tensões entre a Rússia e Ucrânia na região.

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Bruno Soares Gonçalves considera que não existe um risco muito elevado de acidente nuclear, tendo em conta a preparação que a central tem para que erros do passado não se repitam. O comentador da SIC reflete sobre as hipóteses de ataque e as suas consequências, diminuindo os “alarmismos”.

O mundo continua de olhos postos em Zaporíjia, perante as ameaças de um possível ataque à central nuclear.

Rússia e Ucrânia acusam-se mutuamente de estarem a preparar uma eventual investida sobre as instalações nucleares.

No entanto, apesar de não terem sido encontrados explosivos na central, existe ainda uma preocupação generalizada sobre um potencial acidente. O investigador do Instituto Superior Técnico explica como é que a central nuclear ainda está em segurança com outras alternativas de arrefecimento.

"Temos que ver com preocupação a ocupação de uma central nuclear, porque põe em risco os trabalhadoras. Não estou a crer que possa vir a acontecer um acidente grave. A central está débil desde a destruição da barragem de Kakhovka, uma vez que água era essencial para manter os reatores arrefecidos, no entanto, cinco dos reatores estão prados há vários meses o que significa que não tem grande necessidade de arrefecimento", explica o comentador SIC.

Dado isso, entende-se a preocupação, mas mesmo sem a barragem, o que existe neste momento “dá para manter segurança por vários meses”, sendo que a central tem sido arrefecida com água de um canal, que tem sido mantido cheio com água de aquíferos subterrâneos, de um rio e um reservatório.

“O cenário mais provável é que os danos sejam feitos nestes sistemas de arrefecimento”, pondera Bruno Soares Gonçalves.

Agora, no que diz respeito a ataques diretos à central, como explosivos nas cúpulas, a preocupação é maior, pelo menos na sociedade. Porém, para o especialista em fusão nuclear, as centrais estão preparadas para não voltarem a proporcionar momentos que tiveram impactos negativos na sociedade antigamente.

"Os explosivos provavelmente não causariam nenhum dano, uma vez que as cúpulas têm 1,1 metro de espessura de betão armado e estão desenhadas para um embate de avião carregado de combustível", detalha o investigador.

O verdadeiro perigo, para Bruno Soares Gonçalves, é a retórica.

"Causa alarmismo, há uma radiofobia na soceidade, há um grande medo da radiação, isto já tem um grande impacto nas populações e visa estimular os aliados da Ucrânia a intervirem e criar uma zona de exclusão. Este alarmismo causa pressões. Não é expectável que, a acontecer um acidente, seja tão catastrófico como tem vindo a ser propagado, similar a Fukuhima, mas com menos implicações, porque a central tem mecanismo e segurança que previne eventos de Fukushima", conclui.

Os ataques “frios”

Ucrânia acusou esta terça-feira a Rússia de preparar uma "provocação" na central nuclear de Zaporíjia (sul), ocupada por tropas russas, enquanto a Rússia afirma, por seu lado, que Kiev prepara um ataque a esta unidade.

O Exército ucraniano alertou para "a possível preparação de uma provocação no território da central de Zaporíjia num futuro próximo".

A instituição militar afirma que "objetos semelhantes a artefactos explosivos foram colocados no teto externo dos reatores 3 e 4".

"A sua detonação não deve danificar os geradores, mas dar a impressão de bombardeamentos do lado ucraniano", segundo o Exército, avisando que Moscovo "usará a desinformação sobre este assunto".

Em Moscovo, um assessor do grupo nuclear russo Rosatom, Renat Karchaa, acusou, por sua vez, Kiev de preparar um ataque à central.